Racionamento foi encerrado há um mês e passa por impasse judicial.
Por Krystine Carneiro
G1 PB
Um mês após o fim do racionamento, o Tribunal Regional Federal da 5ª
Região (TRF5) suspendeu, nesta segunda-feira (25), a decisão da Justiça
Federal na Paraíba que determinou a retomada do racionamento das águas
do Açude Epitácio Pessoa, mais conhecido como Boqueirão, na Paraíba. A
decisão foi do presidente do TRF5, o desembargador Manuel Erhardt.
Para o desembargador federal, cabe às autarquias demandadas decidir
pela manutenção ou não do racionamento, e não ao judiciário. “A assunção
da competência pelo Judiciário para deliberar acerca de quando se
iniciará ou suspenderá o racionamento (e de qual a sua extensão)
importará em dificuldade para o próprio gerenciamento dos recursos
hídricos na região, haja vista que cumpriria sempre ao Judiciário
definir a política de seu fornecimento”, afirmou Erhardt.
O procurador Bruno Galvão Paiva, do Ministério Público Federal (MPF),
informou que ainda não tomou conhecimento da decisão, porém, disse que a
manutenção do fim do racionamento não é sensata. “Eu não tenho bola de
cristal, nem sou adivinho, mas acredito que a prática desses atos
temerários associada a uma certa imprevisibilidade da constância do
fluxo das águas pode terminar impactado negativamente na segurança
hídrica na região”, declarou o procurador que ajuizou a ação pedindo a
volta do racionamento.
O secretário de Recursos Hídricos, João Azevedo, afirmou que Boqueirão
tem condições técnicas para voltar a abastecer Campina Grande e as
outras 18 cidades da região sem prejuízo. “Sair dessa condição de
racionamento nos deixa bastante tranquilos e eu espero que daqui pra
frente não tenhamos nenhuma querela jurídica a ser discutida a não ser
distribuir água pra todo mundo”, declarou.
O reservatório, que abastece Campina Grande e mais 18 cidades do
interior da Paraíba, atingiu 8,59% da capacidade total nesta
segunda-feira (25), de acordo com o monitoramento da Agência Executiva
de Gestão das Águas do Estado (Aesa).
Desde o anúncio do fim do racionamento, dois magistrados de instâncias
diferentes já determinaram a retomada das medidas restritivas de uso de
água em Boqueirão. A última decisão, derrubada nesta segunda-feira (25), foi tomada pelo juiz federal Vinícius Costa Vidor no dia 19 de setembro e os órgãos citados têm até o dia 30 para confirmar a intimação eletrônica da Justiça Federal na Paraíba e, com isso, retomar o racionamento.
“Não haverá mais a necessidade de desligamento das bombas, considerando
que essa decisão de Campina Grande não tinha sido efetivada porque nós
estávamos aguardando esse recurso que nós havíamos interposto, para
saber se nós desligaríamos ou não. O fornecimento de água em Campina
Grande e em toda a região, as demais 18 cidades, continuará sem
interrupção”, disse o procurador-geral do Estado da Paraíba, Gilberto
Carneiro.
Mesmo com a decisão favorável da Justiça Federal ao pedido do
Ministério Público Federal (MPF), o órgão solicitou que a JF determine o
cumprimento imediato - em até 24 horas - da decisão da última
terça-feira. No pedido, o órgão pede que a Aesa, Companhia de Água e
Esgotos da Paraíba (Cagepa), Agência Nacional de Águas (Ana) e Estado da
Paraíba tenham que pagar R$ 100 mil de multa cominatória por dia de
descumprimento. O pedido ainda não foi apreciado pela Justiça Federal na
Paraíba.
Com as águas recebidas por meio do projeto de Integração do Rio São
Francisco, o volume de Boqueirão subiu de 8,32% em 25 de agosto para
8,59% em 25 de setembro, mesmo com o fim do racionamento e sem o
registro de chuvas no período.
Volume do Açude Epitácio Pessoa
Reservatório, no município de Boqueirão, tem capacitade para 411.686.287 m³ de água
Para o gerente regional da Cagepa Borborema, Ronaldo Menezes, o sistema reagiu ao fim do racionamento conforme o esperado. “No início, surgiram problemas, como rompimentos em redes, mas era o esperado para a busca do equilíbrio das pressões. Antes, era metade da cidade atendida. Agora, é toda a cidade de uma vez. Por isso foi preciso um período de adaptação”, explicou Menezes.
Segundo ele, muitas localidades que estavam ser receber água com
frequência, agora têm abastecimento constante. “O distrito de Galante, a
zona rural de São José da Mata. Em muitos sítios, não chegava água
devido ao racionamento. Na região de Catolé de José Ferreira, fazia
bastante tempo que não chegava água”, comentou.
Argumentos pela volta do racionamento
O procurador Bruno Galvão foi quem ajuizou a ação civil pública, em 1º
de setembro, pedindo a retomada do racionamento das águas de Boqueirão.
Ele considera a decisão do Governo do Estado de liberar o uso das águas
“drástica” e "não cautelosa”.
O pedido é baseado em vários fatores. O primeiro é o fato de que as
obras de transposição das águas do Rio São Francisco ainda estão em fase
de pré-operação e não haveria garantia de estabilidade, segundo o
Ministério da Integração Nacional.
“Acontece que a Aesa e a Cagepa tomaram essa decisão de pôr fim ao
racionamento quanto de liberar para a agricultura de subsistência
levando em conta apenas que chegaria água da transposição de forma
contínua. Mas não há essa garantia, essa certeza, de que haverá
continuidade”, disse o procurador.
Bruno Galvão ainda afirma que, em dezembro de 2014, quando foi
instituído o racionamento, o açude estava com mais de 20% de sua
capacidade total, uma condição mais “favorável”. Diante disso, o
procurador considera a decisão de suspender o racionamento
contraditória.
Além disso, ele afirma que o Ministério da Integração Nacional informou
que a segurança hídrica do açude só seria conquistada quando ele
atingisse a faixa de 97.000.000 m³. Porém, hoje tem pouco mais de
30.000.000 m³.
Impasse judicial
Na decisão do juiz federal Vinícius Costa Vidor,
o magistrado determina a retomada das medidas restritivas de uso de
água adotadas até julho de 2017. Além disso, suspende a autorização para
uso agrícola das águas do Açude de Boqueirão, determinando a sua
destinação apenas para o consumo humano e dessedentação de animais.
Logo após o anúncio de que o racionamento iria acabar em 25 de agosto,
a juíza de direito Ana Carmem Pereira de Jordão deu provimento a ao
pedido da ação civil pública ingressada pela Defensoria Pública de
Campina Grande, determinando a manutenção das medidas restritivas até que o Açude de Boqueirão alcançasse os níveis confiáveis de volume hídrico. A decisão foi publicada no dia 21 de agosto.
No entanto, a decisão da juíza foi derrubada pelo desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos, permitindo o fim do racionamento na data prevista pelo governador Ricardo Coutinho, 25 de agosto.
Fim do racionamento
O abastecimento sem restrições foi restabelecido no dia 25 de agosto,
após uma decisão do desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos, que
liberou a suspensão do racionamento.
O primeiro racionamento foi implantado no dia de 6 de dezembro de 2014,
devido à estiagem prolongada que causou uma situação crítica no Açude
de Boqueirão, chegando a apresentar menos de 2,8% da sua capacidade
máxima. Só depois da chegada das águas do Rio São Francisco, por meio da
transposição - que aconteceu em abril deste ano -, o reservatório
voltou a receber recargas significativas de água.
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