terça-feira, 17 de junho de 2014

Prefeitura reduz programação do São João de João Pessoa em quatro dias

17/06/2014 12h46 - Atualizado em 17/06/2014 12h46

Corte no número de dias ocorreu para tentar atender recomendações do MP.
Promotor do Meio Ambiente garante que degradação da orla continuará.
 
André Resende 
Do G1 PB  

Rm João Pessoa, no Busto de Tamandaré, que divide as praias do Cabo Branco e de Tambaú, o palco já está montado para a festa. Os Paralamas do Sucesso se apresentam após a queima de fogos. (Foto: G1/André Resende)
Festa de São João será no Busto de Tamandaré
(Foto: André Resende/G1)
A programação do São João de João Pessoa foi reduzida de nove para quatro dias. O anúncio no corte do número de datas de festejos juninos foi feito por meio de nota oficial emitida na manhã desta terça-feira (17) pela Secretaria de Comunicação da Prefeitura de João Pessoa. Os dias de festa continuam previstos para começar no dia 21 de junho, mas agora vão até o dia 24, e não mais até o último domingo de junho, 29.

Com a mudança, os artistas que se apresentariam entre os dias 25 e 29, dentre os quais Dorgival Dantas e Flávio José, não vão mais tocar no evento batizado neste ano de “São João Pra Valer”. Ainda de acordo com a nota da prefeitura da capital paraibana, a realização dos shows foi confirmada para o palco no Busto de Tamandaré, entre as praias de Tambaú e Cabo Branco.

Conforme a nota oficial, a decisão de reduzir a programação ocorreu para tentar se adequar a uma recomendação do Ministério Público da Paraíba contrária à realização de nove dias seguidos de festas na orla, por motivos de degradação do ambiente e de problemas para mobilidade urbana da área da orla. Conforme o anúncio, “a prefeitura buscando de forma incansável uma solução harmoniosa, realizou diversas reuniões com o órgão [MPPB], inclusive com várias concessões na busca de um acordo, culminando com a redução da programação”.
Os shows foram transferidos para orla de João Pessoa após um laudo do Corpo de Bombeiros estabelecer, por questões de segurança, um público máximo de 10.800 pessoas para o Ponto de Cem Réis, primeiro local previsto para a promoção do evento. A nota completa afirmando que “através da presente decisão, a Prefeitura de João Pessoa reafirma seu compromisso com a extrema legalidade em todos os seus atos, e com a responsabilidade de garantir a segurança do seu povo, bem como com a preservação do Patrimônio Artístico e Cultural da nossa cidade, postura que se espera de todo e qualquer agente ou órgão público”. O promotor João Geraldo Barbosa, da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Social, reforçou que a diminuição da programação não vai evitar a agressão ao meio ambiente. “Tanto faz degradar nove dias ou quatro. A degradação vai continuar garantida. Se houve a redução, é porque a prefeitura considerou o alerta feito pelo Ministério Público. O município precisa dispor de locais apropriados para realização de festas desse tipo. Ou fazem eventos que caibam dentro do Cem Réis ou construam espaços que abriguem shows dessa magnitude”, completou.
 
Ainda segundo o representante do Ministério Público, não está descartada a possibilidade da prefeitura ser responsabilizada criminal e administrativamente pela realização do “São João Pra Valer”. “Acredito que vamos ingressar com uma Ação Civil Pública para responsabilização da degradação. Meu trabalho nessa promotoria é recente, não tenho como responder por eventos semelhantes realizados no Natal, mas posso trabalhar para evitar degradações no São João”, finalizou.

Fonte


População ainda sofre uma década após tragédia de Camará, na Paraíba

17/06/2014 08h09 - Atualizado em 17/06/2014 11h06 

Tragédia foi ocasionada pelo rompimento de uma barragem.
Cinco pessoas morreram e três mil ficaram desabrigadas em 2004.
 
Wagner Lima  

Do G1 PB

Camará. A palavra que se refere à planta nativa brasileira ganhou outra referência para mais de 28 mil habitantes da cidade de Alagoa Grande, a 119 km de João Pessoa. Para eles, Camará é sinônimo de desespero e morte, desde que a barragem rompeu no dia 17 de junho de 2004 e lançou em torno de 17 milhões de metros cúbicos de água que percorreram, aproximadamente, 25 quilômetros até invadir as ruas da parte baixa de Alagoa Grande, Areia, Alagoa Nova e Mulungu.
Na memória dos moradores do Brejo ficou o registro e a angústia de três mil desabrigados, segundo dados da Prefeitura de Alagoa Grande, que ainda tentam esquecer a noite da tragédia, as cinco mortes e parte da história de cada um destruída pela força das águas. “Foi de repente. A gente percebeu que não era uma enchente normal. A ponte começou a encher d'água até que avisaram que a barragem de Camará tinha estourado”, relembrou a dona de casa Leonita Alencar, de 61 anos, que mora ao lado da ponte por onde passa o Rio Mamanguape.

Leonita Alencar, 61 anos, vítima da tragédia da barragem de Camará, em Alagoa Grande (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
Leonita Alencar, 61 anos, vítima da tragédia da
barragem de Camará, em Alagoa Grande
(Foto: Wagner Lima/G1 PB)
A noite de Leonita Alencar, o marido e a filha caçula foi às margens da rodovia em frente à casa da família na Rua Ernesto Cavalcante. “Chegou a um metro e meio nas paredes da casa". E a cada minuto observando a fúria provocada pela intensidade e volume das águas, Leonita diz ter sentido a sensação de que tudo se acabaria ali. “Perdemos tudo e senti muito medo. Tive a sensação de que o mundo estava se acabando. Ainda hoje tenho trauma: não posso ver muita água que fico nervosa”, contou.
 
A força das águas levou as paredes da casa, móveis, objetos, roupas, mas nenhuma perda doeu tanto quanto a das fotos que Leonita Alencar guardava de fases importantes da vida como juventude, casamento e nascimento dos quatro filhos. “Pedi foto dos meus 15 anos, do nosso casamento em 1972 e de vários momentos da nossa vida. Por sorte, consegui recuperar as fotos do casamento e dos 15 anos. No ano passado ganhei no meu aniversário uma foto que minha irmã conseguiu revelar”, frisou.
 
"Tive a sensação de que o mundo estava se acabando. Ainda hoje tenho trauma: não posso ver muita água que fico nervosa"
Leonita Alencar, moradora de Alagona Grande
 
Em outro ponto da cidade, o professor de física da Universidade Federal de Campina Grande, Rafael de Lima Rodrigues, descia a 'Ladeira do Colégio das Freiras' para avisar aos moradores das ruas próximas ao rio Mamanguape sobre a notícia ouvida na Cultura FM do rompimento da barragem de Camará.
 
“Realmente, a água veio destruindo tudo nessa parte baixa da cidade. Eu saí avisando de rua em rua sobre o rompimento da barragem. Algumas famílias acreditaram e conseguiram até fazer a mudança. Outras, ignoraram. No máximo, colocaram os móveis em cima de tamboretes e cadeiras pensando que a água era pouca. Na última vez que desci, vi carros sendo cobertos e uma correnteza muito forte. Triste ver que dez anos depois ainda tem gente esperando para receber indenização”, disse.

Correrias, saques e escuridão
Em aproximadamente 25 km de trajeto da barragem de Camará até o Centro de Alagoa Grande, a água saiu arrastando árvores, postes de energia elétrica e objetos. A professora Fátima Barbosa conta que estava deitada para dormir quando o irmão bateu na janela avisando de uma 'enchente'. “Eu ignorei porque pensei que fosse resultado da chuva fraca que tava caindo, mas quando abri a porta vi muita gente correndo, gritando desesperada e eu fiquei atordoada. Depois do choque inicial, sair daqui foi a única coisa que a gente pensou em fazer”, contou.

Fátima Barbosa, professora, vítima da barragem de Camará (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
Fátima Barbosa mostra até onde a água subiu
naquele ano (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
Fátima Barbosa explicou que faltou energia duas vezes naquela noite de 17 de junho de 2004 e a ajuda demorou muito para a urgência que existia. “A ajuda não chegou tão rápido quanto a gente precisava. Ajuda mesmo só chegou no outro dia à tarde. Tinha muitos curiosos, isso é verdade, mas a ajuda foi chegando aos poucos... umas doze horas depois. A ajuda inicial foram as nossas famílias e amigos uns ajudando aos outros”, disse.

Alojada em cima de uma barreira, após a casa da mãe também ficar alagada, Fátima Barbosa contou que o marido e o pai ficaram na Rua Professor Antônio Benvindo com água na cintura por conta dos saques. “Meu marido e meu pai permaneceram na rua porque estavam acontecendo muitos saques. Outras pessoas se aproveitaram da situação para ir para o local receber doações de quem realmente precisava”, lembrou.

As cenas do muro sendo derrubado, das pessoas correndo desesperadas e a angústia de não saber quem tinha ficado no interior das casas quando foram invadidas pela água não se comparam, segundo Fátima Barbosa, a cena em que o filho chorava. “O sufoco que a gente passou para conseguir as coisas... e perder tudo rapidamente”, desabafou. A cena que não vai sair da minha cabeça é a do meu filho que dizia que estava com fome e eu não tinha nada para dar a ele. Eu vou viver cem anos e não vou esquecer aquela noite de forma nenhuma.

 Maria Monteiro da Silva, 76, moradora, vítima da barragem de Camará, comprou novas imagens dos santos levados pelas águas (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
Maria Monteiro da Silva comprou novas imagens dos santos
levados pelas águas (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
 
Na Rua da Glória, uma das mais atingidas, a idosa Maria Monteiro da Silva, de 76 anos, moradora da casa de nº  605, ao tentar abrir a porta da cozinha e sentir a pressão da água que começava a tomar conta da residência de apenas três cômodos, correu para a rua. Na fuga da força das águas, caiu e quebrou a clavícula.

“O que vivi naquela noite foi aperreio e agonia. Ainda hoje me lembro do que passei. A água destruiu a porta e levou foi tudo. Carregou panela, bojão, roupas. Só fiquei com um colchão porque na agonia eu coloquei ele em cima da parede”, disse. Católica, Maria Monteiro teve que comprar novamente as imagens dos santos que mantém relação de devoção porque as imagens anteriores foram levadas pelas águas.
 
 Maria Monteiro da Silva, 76 (a esquerda) e a agricultora, Severina dos Santos Sales Oscar da Silva, 57, vítimas da barragem de Camará (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
Maria Monteiro e a agricultora Severina dos
Santos estão entre vítimas da barragem de Camará
(Foto: Wagner Lima/G1 PB)
A filha de Maria Monteiro, a agricultora, Severina dos Santos Sales Oscar da Silva, 57, ao se levantar às pressas da cama, conta que engalhou o brinco no “mosquiteiro” e teve a orelha rasgada. “Os troços já 'tavam' descendo tudo pelo buraco na parede. Eu pensei: 'Eu tirando minha mãe e minha filha, abaixo de Deus o diabo pode levar'. Aí fiz carreira só de camisola. Depois eu condenei essa camisola. Foram anos para construir as coisas e quinze minutos para o satanás acabar.

A gente não era dono da casa, mas eu achei que a gente ia receber uma casa, mas não. Os donos bateram em cima. Só recebi R$ 3.120 de indenização. Eu não tinha só R$ 3.120 na minha casa, meu filho. Eu escapei só com a vida”, frisou. A água chegou a um metro e oitenta centímetros. Ao retornarem para as duas casas, Severina abriu uma porta entre as duas moradias para ter acesso mais rápido para socorrer a mãe.
 
Fonte
 
 
 

Vítimas da tragédia de Camará, na PB, movem 550 ações por danos morais


17/06/2014 14h03 - Atualizado em 17/06/2014 14h03 

Ações cobram indenização pela perda de bens e constrangimento.
Procurador Geral do Estado foi procurado, mas não atendeu às ligações.
 
Wagner Lima 
 
Do G1 PB
 
Maria de Fátima Campos teve a casa invadida pelas águas da barragem de Camará e se mudou (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
Maria de Fátima Campos teve a casa invadida pelas águas da barragem
de Camará e se mudou (Foto: Wagner Lima/G1)

Dez anos depois do rompimento da barragem de Camará, em Alagoa Nova, a 144 km de João Pessoa, estão em tramitação 550 ações com pedidos de indenização que variam de R$ 6 mil a R$ 80 mil, segundo um dos advogados à frente das ações, Nelson Azevedo Torres. Elas são movidas por moradores que seguem em uma batalha judicial por conta de danos morais e materiais contra o governo do Estado. 
 
As ações cobram do Estado, responsável pela obra e manutenção da barragem, indenização pela perda de bens e pelo constrangimento a que os moradores foram submetidos, segundo Nelson Azevedo Torres. “Os casos são bem parecidos. Os clientes perderam móveis, objetos pessoais e de valor, além de terem ficado sem o conforto dos seus lares. Alguns vão receber mais do que outros porque nem todo mundo conseguiu provar os danos materiais”, disse.
O G1 entrou em contato com o procurador Geral do Estado, Gilberto Carneiro para comentar as ações envolvendo o governo do Estado e as vítimas da tragédia de Camará, mas o gestor não atendeu os telefonemas.

A demora na tramitação, segundo Nelson Azevedo Torres, se deve a dois fatores. O primeiro, é que o processo foi distribuído para duas juízas. “Uma instruiu garantindo o direito aos danos materiais e a outra não. Recorremos e o Supremo Tribunal de Justiça mandou restabelecer a sentença inicial”, disse. O segundo se deve aos valores das indenizações pagas pelo governo do Estado, na avaliação do advogado. “De fato, o Estado pagou pequenas indenizações de R$ 600 a R$ 2 mil, o que não foi suficiente para ressarcir todas as vítimas da tragédia de Camará”, disse.
 
Em torno de 300 ações são por danos morais e materiais e as demais apenas por danos morais devido à dificuldade de comprovação das informações. “Há casos em que as pessoas ganharam eletrodoméstico de presente e conseguiram comprovar. Outras não conseguiram atestar que realmente tiveram prejuízo com a situação”, ressaltou. As ações iniciaram na Comarca de Alagoa Grande, seguiram para o Tribunal de Justiça e estão em tramitação no Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

"Tenho muito medo. Muito medo de passar aquilo outra vez. Ninguém acredita mais. Eu não acredito. Aquilo vai estourar de novo." -- Maria de Fátima Campos, moradora de Alagoa Grande
A dona de casa Maria de Fátima Campos, 57 anos, morava na conhecida 'Rua do Rio'. Por trás da casa dela, o curso do Rio Mamanguape seguia. Com a ruptura da barragem de Camará, a água chegou acima de um metro e meio nas paredes. “Pra falar a verdade não achei que seria tanta água como foi. A minha vontade foi de sair daqui e não voltar mais nunca, por isso me mudei. Tive perda total das minhas coisas e me pagaram apenas R$ 3 mil. Deu para comprar alguma coisa, um fogão, uma geladeira. O resto a gente foi comprando aos poucos”, afirmou.
 
Os dois principais questionamentos de Maria de Fátima são o pagamento da indenização insuficiente e a reconstrução de Camará, para ela um pesadelo. “Tenho muito medo. Muito medo de passar aquilo outra vez. Ninguém acredita mais. Eu não acredito. Aquilo vai estourar de novo”, reforçou temerosa.
 
A atriz e professora Ana Cristina do Nascimento, conta que perdeu materiais de trabalho, fotografias, textos de teatro e até Adonis, um gato de estimação que desapareceu durante a invasão da água na residência dela na Rua da Glória. Como ressarcimento, ela disse que recebeu do governo do Estado duas parcelas de mil reais e uma terceira não foi quitada. “Foram oito dias sem água, faltava energia, lama por todo lugar. Dois dias depois chegou o carro-pipa. Um caos”, disse.
 
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