terça-feira, 17 de junho de 2014

Vítimas da tragédia de Camará, na PB, movem 550 ações por danos morais


17/06/2014 14h03 - Atualizado em 17/06/2014 14h03 

Ações cobram indenização pela perda de bens e constrangimento.
Procurador Geral do Estado foi procurado, mas não atendeu às ligações.
 
Wagner Lima 
 
Do G1 PB
 
Maria de Fátima Campos teve a casa invadida pelas águas da barragem de Camará e se mudou (Foto: Wagner Lima/G1 PB)
Maria de Fátima Campos teve a casa invadida pelas águas da barragem
de Camará e se mudou (Foto: Wagner Lima/G1)

Dez anos depois do rompimento da barragem de Camará, em Alagoa Nova, a 144 km de João Pessoa, estão em tramitação 550 ações com pedidos de indenização que variam de R$ 6 mil a R$ 80 mil, segundo um dos advogados à frente das ações, Nelson Azevedo Torres. Elas são movidas por moradores que seguem em uma batalha judicial por conta de danos morais e materiais contra o governo do Estado. 
 
As ações cobram do Estado, responsável pela obra e manutenção da barragem, indenização pela perda de bens e pelo constrangimento a que os moradores foram submetidos, segundo Nelson Azevedo Torres. “Os casos são bem parecidos. Os clientes perderam móveis, objetos pessoais e de valor, além de terem ficado sem o conforto dos seus lares. Alguns vão receber mais do que outros porque nem todo mundo conseguiu provar os danos materiais”, disse.
O G1 entrou em contato com o procurador Geral do Estado, Gilberto Carneiro para comentar as ações envolvendo o governo do Estado e as vítimas da tragédia de Camará, mas o gestor não atendeu os telefonemas.

A demora na tramitação, segundo Nelson Azevedo Torres, se deve a dois fatores. O primeiro, é que o processo foi distribuído para duas juízas. “Uma instruiu garantindo o direito aos danos materiais e a outra não. Recorremos e o Supremo Tribunal de Justiça mandou restabelecer a sentença inicial”, disse. O segundo se deve aos valores das indenizações pagas pelo governo do Estado, na avaliação do advogado. “De fato, o Estado pagou pequenas indenizações de R$ 600 a R$ 2 mil, o que não foi suficiente para ressarcir todas as vítimas da tragédia de Camará”, disse.
 
Em torno de 300 ações são por danos morais e materiais e as demais apenas por danos morais devido à dificuldade de comprovação das informações. “Há casos em que as pessoas ganharam eletrodoméstico de presente e conseguiram comprovar. Outras não conseguiram atestar que realmente tiveram prejuízo com a situação”, ressaltou. As ações iniciaram na Comarca de Alagoa Grande, seguiram para o Tribunal de Justiça e estão em tramitação no Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

"Tenho muito medo. Muito medo de passar aquilo outra vez. Ninguém acredita mais. Eu não acredito. Aquilo vai estourar de novo." -- Maria de Fátima Campos, moradora de Alagoa Grande
A dona de casa Maria de Fátima Campos, 57 anos, morava na conhecida 'Rua do Rio'. Por trás da casa dela, o curso do Rio Mamanguape seguia. Com a ruptura da barragem de Camará, a água chegou acima de um metro e meio nas paredes. “Pra falar a verdade não achei que seria tanta água como foi. A minha vontade foi de sair daqui e não voltar mais nunca, por isso me mudei. Tive perda total das minhas coisas e me pagaram apenas R$ 3 mil. Deu para comprar alguma coisa, um fogão, uma geladeira. O resto a gente foi comprando aos poucos”, afirmou.
 
Os dois principais questionamentos de Maria de Fátima são o pagamento da indenização insuficiente e a reconstrução de Camará, para ela um pesadelo. “Tenho muito medo. Muito medo de passar aquilo outra vez. Ninguém acredita mais. Eu não acredito. Aquilo vai estourar de novo”, reforçou temerosa.
 
A atriz e professora Ana Cristina do Nascimento, conta que perdeu materiais de trabalho, fotografias, textos de teatro e até Adonis, um gato de estimação que desapareceu durante a invasão da água na residência dela na Rua da Glória. Como ressarcimento, ela disse que recebeu do governo do Estado duas parcelas de mil reais e uma terceira não foi quitada. “Foram oito dias sem água, faltava energia, lama por todo lugar. Dois dias depois chegou o carro-pipa. Um caos”, disse.
 
Fonte
 
 
 

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