domingo, 16 de fevereiro de 2014

Monitoramento confirma déficit de água no solo no Agreste da Paraíba

16/02/2014 06h00 - Atualizado em 16/02/2014 06h00 

Estudo indica "vegetação submetida a condição de estresse hídrico".
Alto Sertão teve melhora devido a chuvas, mas quadro é preocupante.
 
Do G1 PB
 
NDVI monitora situação do solo paraibano (Foto: Reprodução/Insa)
NDVI monitora situação do solo paraibano (Foto: Reprodução/Insa)
Um monitoramento feito pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa) confirma a situação considerada como preocupante do solo no Agreste da Paraíba por conta da estiagem. De acordo com o trabalho feito pela instituição, numa escala que varia entre 0 e 1, o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) na maior parte da região é de 0,2. Isso significa que há registro de "vegetação sem folhas e submetida a condição de estresse hídrico por déficit de água no solo".
 
Especialistas advertem que o ÍNDVI permite perceber que o solo exposto tende a sofrer maior degradação. O índice se traduz por um indicador numérico, que varia, teoricamente, de 0 (referente à vegetação sem folha, submetida a condição de estresse hídrico por déficit de água no solo) a 1 (relativo à vegetação com folhas, sem restrições hídricas e na plenitude de suas funções metabólicas e fisiológicas).
 
Os dados mais recentes são do período entre os dias 21 e 26 de janeiro, quando o Alto Sertão do estado apresentou leve melhora devido às chuvas caídas no início do ano. O instituto explica que o NDVI permite não só mapear a vegetação, mas também medir sua quantidade e condição em uma determinada área.
 
O índice de vegetação varia ao longo do ano, de acordo com a influência do período chuvoso. O mapa acima ilustra os últimos dias do mês de janeiro deste ano. Quanto mais próximo do verde, entende-se que há uma maior cobertura vegetal, enquanto os tons avermelhados indicam maior exposição do solo, pois há menor vegetação e folhagem.
 
Segundo o pesquisador em Geoprocessamento do Insa, Anderson Maciel Lima de Medeiros, as "áreas onde o índice de vegetação é considerado baixo por longos períodos deixam o solo exposto e, por isso, tendem a sofrer uma maior degradação, o que prejudica a fertilidade do mesmo e terá consequências negativas na produção agrícola da região".
 
Apesar da leve melhora indicada pelo NDVI no Alto Sertão paraibano devido às chuvas recentes, a perspectiva não deixa de ser preocupante. "A situação preocupante na Paraíba se encontra na porção inserida no polígono do semiárido. Isso inclui 170 dos 223 municípios paraibanos. De acordo com os últimos dados, a que está em melhor situação seria o Alto Sertão, em virtude da ocorrência recente de chuvas. Mas deve-se notar que esta condição poderá variar com a continuidade ou não da precipitação pluviométrica", relata o pesquisador.
 
Os dados do NDVI são empregados em estudos desenvolvidos pelo Insa, como a modelagem climática e hidrológica; balanço de carbono, detecção de mudanças climáticas, estimativas de parâmetros da vegetação (cobertura vegetal, índice de área foliar); monitoramento do ciclo de crescimento de culturas, produtividade de plantações; monitoramento de secas; detecção de desmatamentos e avaliação de áreas queimadas, entre outras aplicações.
 
Reflorestamento na Paraíba
Para reduzir os impactos climáticos diagnosticados pelo monitoramento, o Insa atua com a produção de mudas para reflorestamento. Em 2013, foram produzidas 14.213 mil mudas de 10 espécies nativas e quatro exóticas. "Está sendo implantado um viveiro na estação experimental do instituto para produzir mudas destas espécies, com foco nas consideradas em vias de extinção ou raras, mas resistentes às condições do semiárido", concluiu Anderson Maciel.
Fonte

População que receberá água do São Francisco luta contra extração de areia

Na região do Rio Paraíba, destino final das límpidas águas do Velho Chico, moradores tentam frear a retirada de areia

Postada em: 15/02/2014 às 08:52:05
 
  
Na manhã do dia 12 de novembro de 2012, cerca de cem pessoas – agricultores sindicalistas, ambientalistas, representantes de associações civis ligadas à preservação do rio Paraíba – tendo à frente o deputado Antônio Ribeiro, mais conhecido como Frei Anastácio, e o ambientalista e médico João Batista da Silva, ocuparam a sede da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), na capital do estado, João Pessoa.
 
Os manifestantes exigiam da atual superintendente da Sudema, Laura Farias, a regularização da atividade de extração de areia junto ao Rio Paraíba, que prejudica a saúde do rio e acelera o processo de desertificação (a areia serve como uma esponja que absorve a água da chuva que cai durante apenas dois meses por ano, e evita a evaporação).
 
Por volta das 13 horas, os manifestantes já tinham em mãos um Termo de Compromisso assinado por Laura, segundo o qual o órgão assumia o compromisso de apresentar a tal regulamentação, além de criar a Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Paraíba e fiscalizar todas as denúncias.

Um ano depois, porém, nenhum item havia sido efetivamente cumprido.

As reuniões informais da população com o objetivo de preservar o rio Paraíba deram origem ao Fórum de Preservação e Defesa do Rio Paraíba, formado oficialmente em 2011 por integrantes de associações ambientais, sindicatos, Pastorais Sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ambientalistas e agricultores.

Extensão de obra no São Francisco é quase a distância entre Salvador e Recife

Em setembro de 2013, a superintendente Laura compareceu a uma das reuniões do Fórum de Defesa do Rio Paraíba, realizada no município de São José dos Ramos, e se comprometeu verbalmente em não conceder mais licenças para essa atividade. Mas, segundo o Fórum, novamente o compromisso foi quebrado.

Briga judicial
Em 9 de outubro de 2013, a empresa de Antônio Ferreira de Araújo, que atua em uma área de 149 hectares entre Itabaiana a Salgado de São Félix teve sua licença renovada por mais um ano.

O processo de renovação dessa licença traz algumas particularidades: em 5 de dezembro de 2012, entrou em vigor a Lei Orgânica de Itabaiana (PB), proibindo a retirada mecanizada de areia, cascalho e argila, sendo permitida apenas extração manual para uso em obras municipais. Com a licença por vencer no final de 2012, Antônio Ferreira entrou com um pedido de renovação, que foi negado pela Sudema. Seis meses depois, em 22 de julho de 2013, o empresário nomeou como seus procuradores os integrantes do escritório Lopes Advocacia. Um dos sócios é o advogado da Sudema, Ronílton Pereira Lins. Ou seja, o dono da firma que atende Antônio Ferreira trabalha também na Procuradoria Jurídica da Sudema.

Procurado pela reportagem, ele afirma que desde quando assumiu a Procuradoria Jurídica da Sudema não faz mais parte do escritório de advocacia, e não tem conhecimento das ações que são concebidas lá. “Meu nome deve ter sido colocado na procuração por engano, pois ainda devia constar nos documentos do escritório, mas não tenho mais nenhum vínculo ali”, afirmou.

Como advogado da Sudema, Ronílton garante que segue a recomendação do Ministério Público que determinou o fim da extração mecanizada. “Apenas concedemos licenças por intermédio de ação judicial, quando somos obrigados a cumprir”, enfatizou.

Em 12 de agosto de 2013, Antônio Ferreira obteve um mandado de segurança, expedido pelo então Juiz de Direito de Itabaiana Henrique Jorge Jácome de Figueiredo, para a renovação da licença. A Sudema concedeu então a renovação da licença de duas áreas: uma referente à área de Itabaiana a Salgado de São Félix e outra de Itabaiana a Pilar, ambas no dia 9 de outubro de 2013.

Contudo, em 28 de novembro de 2013, a promotora de Justiça de Itabaiana, Maricellly Fernandes Vieira, entrou com pedido de retratação da decisão da liminar. Ela acusa Antônio Ferreira de ter agido de má-fé ao entrar com o mandato judicial, omitindo do magistrado a existência da Lei Municipal de Itabaiana, que proíbe a atividade. Em 29 de janeiro, a Juíza Higyna de Almeida, da 1ª Vara Judicial de Itabaiana, tornou o mandato sem efeito.

Antonio Ferreira explora a mineração no rio Paraíba desde 2005. Ele alega que tem conhecimento da lei municipal, mas justifica: “Os órgãos concederam as licenças, então tenho permissão de trabalhar e procuro fazê-lo da melhor forma possível, de maneira legal”, salientou.

Outro caso apontado como mau exemplo pelo procurador da República Duciran Farena é o da obtenção de renovação das licenças de lavra experimental para a Fazenda Oiteiro, nos Municípios de São Miguel de Taipu e Pedras de Fogo.

A renovação das licenças foi concedida pela Sudema em dia 26 de agosto de 2013. Contudo, os documentos exigidos por Lei para o pedido de renovação de licença da área de cinco hectares de São Miguel de Taipu são datados do dia 28 de agosto de 2013 – dois dias depois de concedida a licença.

Nesse dia, Clóris Monteiro Vieira de Melo, proprietária da Fazenda Oiteiro, enviou um documento para o promotor de Pilar, Aldenor de Medeiros Batista, solicitando parecer favorável para a extração de areia. No mesmo dia, o promotor deu o parecer autorizando a Sudema a conceder a renovação. Em tempo recorde, ainda no dia 28, a Sudema emitiu o Parecer Jurídico nº 481/2013, acatando a justificativa do Ministério Público de Pilar.

Para piorar, todo o processo tramitou enquanto estava em vigor a Lei Orgânica do Município de São Miguel de Taipu que proíbe a extração mecanizada de areia, cascalho e argila. Pouco depois, em 12 de dezembro de 2013, a Lei foi revogada pela câmara de vereadores da cidade. O presidente é o vereador Augusto Vieira, filho da proprietária da Fazenda Oiteiro Ltda.

“Não há legislação estadual na Paraíba referente à atividade e as leis municipais prevalecem às federais por serem restritivas. Isto está na Constituição. Esta é uma atribuição das câmaras municipais”, explica o técnico do Ibama, Ronilson Paz.


A população não confia nas autoridades
Indignado, o agricultor e sindicalista Joserino de Sousa, do assentamento Corredor, na zona rural do município de Remígio, constata grandes mudanças no meio ambiente. “Hoje em dia cavamos um poço, e em questão de 10 meses não tem mais água, pois os lençóis de água desceram em direção ao leito. Há 20 ou 15 anos, a exploração de batatas era feita três meses por ano. De feijão, era por quatro meses do ano. Agora, raramente conseguimos colher uma vez no ano. Como é isso? Os proprietários se ‘adonam’ do rio e fazem o que querem? E a população que trabalha e planta e depende da água que tinha no rio? A gente não pode tirar uma pá de areia que já vem alguém para nos impedir”, lamenta Joserino. “Depois, quem vai passar sede serão os nossos filhos. Ou tomamos uma posição enérgica, de atitude, ou o rio vai acabar um cemitério, se depender dos órgãos governamentais”.
 
Entenda a legislação:
Segundo a legislação brasileira, o licenciamento para a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades que utilizam recursos ambientais capazes de causar degradação ambiental depende de prévio licenciamento por órgão estadual competente. Caso o órgão não esteja instalado, a atribuição é do Ibama. A empresa deve apresentar um estudo de impacto ambiental e relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), além de planos de reposição ou compensação da degradação ambiental.
 
Na Paraíba as licenças são concedidas pela Sudema, com pareceres do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) ou do Ministério Público. Ronilson Paz, técnico do Ibama na Paraíba, afirmou que o órgão realiza suas atribuições conforme a legislação. “A Sudema é um órgão para exercer o controle e a preservação do meio ambiente no estado e trabalha para isso”, disse Ronilson Paz. Já o ambientalista João Batista da Silva tem outra opinião: “A Sudema precisa estabelecer os critérios para extração de areia mecanizada, precisa de uma política de preservação da Bacia do Rio Paraíba há muito tempo, e parece que não dá importância para isso”. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Projetos que não saem do papel

População enfrenta trânsito e congestionamento diariamente na capital, enquanto projetos de mobilidade não são executados. 



 



Alberi Pontes
Semob admite que principais projetos de modalidade urbana não saíram do papel

Propostas para melhorar o tráfego em pontos estratégicos de João Pessoa existem, no entanto o responsável pela Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), Nilton Pereira, admite que os principais projetos de modalidade urbana não saíram do papel. Enquanto as soluções não são executadas, pedestres e condutores sofrem para se livrar de congestionamentos em vários pontos da cidade.

Um deles é a avenida Epitácio Pessoa, por onde o motoboy Jaerton de Oliveira trafega diariamente e perde, em média, 20 minutos preso em congestionamentos todos os dias. Para melhorar o fluxo de veículos ao longo da avenida Epitácio Pessoa, existe um projeto para a construção de um viaduto que ligaria um trecho da avenida, nas proximidades do Espaço Cultural, à BR-230. Segundo informações da assessoria de comunicação da Secretaria de Planejamento do Município (Seplan), a proposta está em análise na Semob.

Outro projeto que desafogaria o trânsito entre os bairros dos Bancários e Castelo Branco é o 'Vias do Atlântico'. Elaborado em 2011, através de um convênio entre a prefeitura da capital e o governo do Estado, o projeto estava orçado em 9,1 milhões e seria executado pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER). Mas, as obras ainda não foram iniciadas por falta de recursos, conforme explicou o superintendente da Semob, Nilton Pereira.

“Há um projeto chamado 'Vias do Atlântico'. Uma via interligando as Três Ruas, nos Bancários, UFPB, próximo ao Hospital Universitário, e Altiplano, servindo de rota alternativa para acesso aos bairros da zona sul. Estava tudo pronto para a licitação do projeto, que seria de grande importância para a população da cidade. Porém, com o rompimento político do governo do Estado com a prefeitura, o projeto está parado desde então”, confirmou.

Nilton Pereira alegou ainda que a prefeitura está buscando recursos para iniciar as obras, mas ainda não há previsão para o trabalho. Já o diretor de Operações da Semob, Cristiano Nóbrega, informou que no trecho que abrange o projeto e também no entorno da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mais de dois mil veículos trafegam pela área todos os dias.

Saindo da zona sul e seguindo em direção à avenida Epitácio Pessoa, um dos principais corredores da cidade, a falta de mobilidade afeta condutores e transeuntes todos os dias. Além dos trechos já conhecidos por quem transita pelo local, outros pontos tidos como “vias alternativas” já registram pequenos transtornos de mobilidade. No entanto, até esses “atalhos” têm concentrado grande quantidade de veículos e deixado o trânsito lento.

Acostumado a transitar pela Epitácio Pessoa para fazer entregas, o motociclista Jaerton aponta trechos da avenida Epitácio Pessoa, dos bairros da Torre e Tambauzinho como os pontos mais críticos nos horários do início e final da tarde.

“Mesmo com a moto, não consigo me livrar do trânsito e fico parado no congestionamento”, lamentou.

A servidora Paloma Oliveira revela que outras ruas no bairro da Torre, principalmente nas proximidades do mercado público, também ficam congestionadas nos horários de maior tráfego, início da manhã, 7h, e da noite, 18h. “Procuro utilizar mais as BRs, mas sempre que passo pela Torre ou Epitácio enfrento congestionamento. A gente perde muito tempo no trânsito”, disse a jovem.

POPULAÇÃO RECLAMA DE 'GARGALOS' NO CENTRO
No Centro de João Pessoa, os condutores já estão acostumados a encontrar congestionamento no entorno do Parque Solon de Lucena (Lagoa), sobretudo nos horários de pico. Contudo, em outros trechos do bairro, como as avenidas Odon Bezerra, Dom Pedro I e Princesa Isabel , próximo ao Mercado Central, são as novas “dores de cabeça” dos condutores.

Jeferson dos Anjos trafega diariamente pelo Centro da capital e aponta a área no entorno do Parque Solon de Lucena (Lagoa) e do viaduto Dorgival Terceiro Neto como os locais de maior movimentação. “Tem dias que naquela área eu passo de 15 a 20 minutos no congestionamento. Todos os dias é a mesma coisa. Tem a faixa exclusiva para os ônibus, mas não adianta muito”, completa.

Para fugir do trânsito, muitos condutores também procuram rotas alternativas, como a avenida Princesa Isabel, Maximiliano de Figueiredo, para seguir no sentido Centro/Praia. O cruzamento entre as avenidas Severina Moura e Júlia Freire, no bairro da Torre, é via de acesso para a Epitácio Pessoa, nos sentidos Centro/Praia e Praia/Centro frequentemente fica congestionada devido ao tráfego de veículos no local. O mesmo acontece no viaduto do Cristo Redentor.

SEM CONTATO
A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA tentou contato por telefone, durante todo o dia, com o superintendente da Semob, Nilton Pereira, para saber mais informações sobre o projeto de mobilidade previsto para a área da avenida Epitácio Pessoa e os demais projetos do PAC Mobilidade. Mas, até o fechamento desta edição, o gestor não foi localizado para comentar o assunto.