quarta-feira, 22 de junho de 2016

O mar não é o maior vilão da barreira do Cabo Branco

Bruna Vieira / 22 de junho de 2016

        Foto: Assuero Lima

Há mais de um ano, a Prefeitura de João Pessoa apresentou o projeto para proteção dos sopés da falésia de Cabo Branco, com quebra-mares ao longo de 2,6 km da costa, drenagem pluvial e pavimentação de ruas. As obras que custarão R$ 70 milhões ainda não foram iniciadas. Ambientalistas propõem um novo projeto com menos impactos e que custaria em torno de 35% desse valor. Para estudiosos, o grande problema do local é a erosão de cima para baixo e não a causada pelo mar. Mesmo assim, a faixa de areia vem diminuindo.

“O local é menos extremo agora e pode deixar de ser o ponto mais oriental. Em dois anos, o mar avançou seis metros”, afirmou Fernando Neves, coordenador do estudo defende o uso da tecnologia ‘sand saver’, que aumentaria a faixa de areia nas praias do Seixas e Cabo Branco. O pesquisador Gilberto Alves Pekala é um dos coordenadores do estudo. São três propostas que devem ser executadas para ter efetividade na contenção da barreira: drenagem pluvial da parte superior no bairro Altiplano, biomanta vegetal na barreira e contenção da erosão marítima.

A biomanta consiste em redes fixadas com plástico biodegradável com palha de coco na barreira, na qual sementes serão introduzidas. As mudas que nascerem enraizadas vão recompor a proteção vegetal, evitando a erosão causada pela chuva. Já a água pluvial será drenada para o Rio Cabelo. O sand saver (tecnologia americana de blocos de polietileno para contenção ainda não usada no Brasil) tem furos maiores no sentido do mar para a praia, permitindo que a água passe sem dissipar energia (bater com força), na volta, quando a água é mais lenta, os buracos são menores, logo, os sedimentos ficam na praia, engordando a faixa de areia. Outra vantagem é que os blocos são removíveis, após cumprirem sua função podem ser retirados”, destacou Gilberto, doutor em biologia.

Diferenças. Gilberto diferenciou os dois projetos. “A parede de cimento proposta pela prefeitura altera a fauna e flora marítima. Tem que construir um caminho no mar para que os caminhões passem com as pedras que serão instaladas a 200 metros. Ele não será retirado depois, o que prejudica a navegação das pequenas embarcações e deixa a água parada, decompondo as matérias orgânicas e gerando mau cheiro. Os blocks são colocados onde a maré espraia (onda quebra) e tem apenas 1 m de altura, não compromete os animais que vivem na areia. Essa área é um berçário de espécies endêmicas, um laboratório natural que será afetado pelo projeto. Além de não ser eficiente, é impactante”, esclareceu.

Outro problema são trilhas usadas pela população para chegar à barreira. Quando chove, os caminhos tornam-se rios, arrastando sedimentos junto com a água. A erosão é visível em qualquer ponto do local. Para o ambientalista, o tráfego de veículos também é prejudicial. “O ideal é que o acesso à Estação Ciência seja pelo outro lado e que se feche essa rotatória. O solo é frágil, veículos mais pesados tremem quando passam aqui. Não dá para retirar o que já foi construído, mas, não se deve deixar que faça mais nada”, apontou Gilberto.

Para Fernando Neves, que também coordena a pesquisa, o atual projeto da PMJP não vai solucionar o desmoronamento da barreira e o problema é reflexo também dos quebra-mares de Pernambuco. “É caro, necessita mais custos com manutenção e pode custar até R$ 120 milhões e oito quebra-mares é mirabolante. A obra é um problema e a falta de vegetação também. Um exemplo de que não resolve é Recife e Paulista. Quando a água bate no quebra-mar e não consegue passar, ela escorre para os lados, causando impacto em outros locais. Se fizer em João Pessoa, vai causar dano em outras praias. Em um ou dois anos, o sand saver recupera um metro de altura de areia”, disse.

Comerciantes. Olga Rodrigues tem um restaurante há 13 anos na Ponta do Seixas e a cada dia busca alternativas para o avanço do mar. “O bar era ali onde está aquele barco (aponta para o mar). Foi avançando e a gente subindo. Enchemos garrafas pet com areia para ajudar a fazer barreira. As autoridades têm que resolver porque é de onde tiramos nosso sustento. Muitos colegas já venderam seus bares”, contou a comerciante.

A Secretaria de Planejamento de João Pessoa informou que o projeto ainda não foi iniciado porque a Superintendência de Administração do Meio Ambiente ainda não emitiu a liberação de licença ambiental.





 

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