sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os espigões vão decolar’

27/12/2013 às 08:00 h
 
Rubens Nóbrega
 
Após a Justiça Federal decidir, no último dia 19, que a Prefeitura de João Pessoa pode desapropriar a área do Bessa onde funciona o Aeroclube de João Pessoa, o Professor Menezes está convencido de que lá, onde hoje pousam e decolam pequenas aeronaves, em futuro próximo deve pousar de vez a ganância imobiliária para fazer daquilo a pista de decolagem dos espigões que serão erguidos naquele terreno.
 
“Sim, Professor, mas tem o parque, o Parque Parahyba que a Prefeitura projetou e pretende instalar no local”, ponderei. Mas ele, radical como nunca antes em sua história, voltou à carga com novos argumentos demolidores dos bons propósitos aparentes. “Não seja tolo, meu jovem. Toda aquela operação de há quase dois anos sempre teve inspiração imobiliária. O ambiental é acessório, embora muito importante para os investidores”, disse.
 
“Importante como, Professor?”, provoquei. “Ora, meu caro, importante porque é óbvio que o parque municipal vai valorizar e muito a floresta de espigões que brotará na área nobilíssima do Bessa. Quem não quer morar vizinho de um parque? Além do mais, a obra pública vai dar um tremendo charme ecológico ao empreendimento privado”, vaticinou.
 
Quanto à operação de quase dois anos atrás a que se referiu meu qualificado interlocutor, cumpre-me esclarecer. Trata-se da destruição da pista do Aeroclube consumada em 19 de janeiro de 2011 por ordem do então prefeito Luciano Agra, uma ação truculenta baseada em decisão judicial provisória (liminar) que autorizava apenas a desocupação do local.
 
Destruição estratégica
Segundo o Professor Menezes, a apressada destruição da pista foi, na verdade, pensada e ordenada para forçar dirigentes e sócios do Aeroclube a aceitarem ligeirinho a desapropriação que inviabilizaria a venda daquele patrimônio a um grupo empresarial cearense supostamente interessado em construir monumental shopping center no Bessa. Sendo verdade, a ação teria como objetivo favorecer os shoppings já existentes ali perto, em Manaíra, presumindo-se que esses seriam fortemente abalados pela concorrência.

“Interesses paralelos”
De qualquer sorte, emenda o Professor, “devemos considerar os muitos interesses paralelos que se beneficiarão com a retirada do Aeroclube daquela área, o mais forte dos quais se representa pelo fim das restrições de altura ali existente, em função do chamado polígono de voo, restrições essas que retiradas vão permitir o desenvolvimento e a implantação de projetos arquitetônicos como os espigões, hoje impossíveis, dada a limitação ainda existente”. 
 
Ele menciona ainda, entre os tais ‘interesses paralelos’, campanhas eleitorais “sempre bafejadas pelos sistemas que presumivelmente se beneficiarão do levantamento dessas restrições”. E aponta o resultado mais do que previsível da remoção do Aeroclube: a supervalorização dos lotes que serão ocupados pelos novos ‘benefícios’ oferecidos à cidade, “que verá mais uma de suas áreas submetida a um adensamento populacional cujas consequências só ousamos imaginar”.

A mudança se impõe
Arrisco dizer que as impressões, observações e desconfianças do Professor Menezes são comuns a milhares de cidadãos residentes em João Pessoa, entre os quais o colunista se inclui. Penso, contudo, que a mudança de local do Aeroclube há muito se impõe pelos riscos de acidente, ampliados com a proximidade de prédios residenciais ou comerciais em volta da pista. Mas essa mudança deverá ser discutida e construída mediante consenso entre as partes. Para nossa felicidade, o Prefeito Luciano Cartaxo é pessoa afeita ao diálogo e já disse publicamente que está disposto a encontrar com o pessoal do Aeroclube a melhor saída para todos os lados envolvidos na questão.

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