Ciência e Tecnologia | Em 04/05/2014 às 09h35, atualizado em 04/05/2014 às 10h05 | Por Luciana Rodrigues
Peça deve ser analisada por um paleontólogo e após comprovada a originalidade, ficará em exposição e fará parte do acervo do museu do Vale dos Dinossauros, em Sousa
Garoto mostra pedra com pegada de dinossauro
Um garoto de sete anos achou uma pedra com uma pegada de dinossauro, quando brincava no quintal de casa, esta semana, no município de Sousa, no Sertão do estado, a 477 de João Pessoa.
Matheus Dannylck, correu para dizer sobre sua descoberta ao pai, o fotógrafo Saullo Dannylck, que naquele momento não deu muita importância ao que o filho lhe dizia com voz eufórica, "papai achei uma pedra com 'buraco dos dedinhos'". Sem dar muita importância, Saullo prometeu que depois iria dar uma olhada no que o filho tinha encontrado.
Achando que o pai não tinha dado muita importância ao que ele dissera, Matheus foi até o local onde tinha encontrado a pedra e a retirou para levar até Saullo. "Papai, eu tirei a pedra e trouxe para o senhor ver".
Ao observar a peça que Matheus tinha mostrado, o fotógrafo percebeu que poderia tratar-se realmente de uma pegada de dinossauro e a encaminhou para o setor de reserva técnica do Monumento Natural do Vale dos Dinossauros, no município de Sousa, que já possui uma área de conservação, criada em 2002, com um dos mais importantes sítios paleontológicos do mundo.
A peça deve ser analisada por um paleontólogo e após comprovada a originalidade, ficará em exposição e fará parte do acervo do museu do Vale dos Dinossauros. Além de Sousa, mais 29 cidades do Sertão da Paraíba fazem parte da área de conservação do sítio paleontológico que é uma das áreas com maior incidência de pegadas de dinossauros já encontradas no planeta.
No mês de fevereiro deste ano, também no município de Sousa, o aposentado Luiz Carlos da Silva Gomes encontrou um fóssil que aparentemente seria de uma tíbia de dinossauro. O fóssil foi retirado de uma rocha na zona rural de Sousa e encaminhada para o Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal de Pernambuco, onde está sendo estudado.
Em contato com a paleontóloga Aline Ghilardi, doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colaboradora do Laboratório de Paleontologia (Paleolab) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a pesquisadora informou que esses tipos de vestígios são comuns em Sousa, pois o município, assim como os demais que fazem parte do sítio paleontológico, tanto no Sertão da Paraíba como no estado vizinho do Ceará, estão incluídos nas bacias sedimentares com rochas portadoras de fósseis.
Aline explicou que bacias sedimentares são áreas onde se acumularam sedimentos ao longo do tempo, que posteriormente são transformados em rocha, ajudando a preservar um registro de mudanças ambientais e ecológicas do passado, ou seja, "são como livros de registro de eventos pretéritos, cujas páginas são camadas de rochas".
A paleontóloga informou que a idade das rochas na região de Sousa, correspondente ao período em que os dinossauros dominaram a terra, e o ambiente que ali existia favoreceram à preservação de vestígios fósseis, como pegadas.
"Esses vestígios fósseis e as estruturas presentes nas rochas da região nos ajudaram a entender que entre 145 e 125 milhões de anos atrás, a região era coberta por lagos e rios e borbulhava de vida. Já foram encontrados ali não só registros fósseis de dinossauros, mas também de quelônios, crocodyliforme, plantas e diversos invertebrados", revelou.
A paleontóloga contou que esses animais caminhavam nas bordas dos lagos e deixavam seus registros, assim como acontece na atualidade quando caminhamos por um substrato mole, como areia e lama, e deixamos nossas pegadas.
Nova espécie
O material ósseo de dinossauro retirado de Sousa no início deste ano é único na região e trata-se de um osso longo, mas não se sabe ainda de qual parte dos membros e nem a identidade do dinossauro. A pesquisadora Aline Ghilardi informou que é o primeiro registro ósseo de dinossauro achado em Sousa e o mais antigo para o Cretáceo do Brasil. Ela acredita que possa ser uma nova espécie.
"Certamente é um novo animal, mas dificilmente poderá receber um nome pois temos apenas um osso em mãos, o que não é suficiente, cientificamente falando, para caracterizar oficialmente uma nova espécie. Isso não o impedirá de ter um apelido informal...".
Aline informou que o material ainda está em preparação para estudo no Paleolab e que a análise do achado terá a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) do campus do município de Areia.
Com os estudos e a identificação do material ósseo encontrado em Sousa, finalmente um dos dinossauros locais terá sua identidade diretamente reconhecida e a pesquisadora disse que é por isso que a descoberta desse registro foi tão badalada.
Ela informou que em locais aonde se preservam pegadas, dificilmente se preservam ossos, e por isso é que o osso encontrado em Sousa é tão especial e mostra o potencial da região para estudos futuros.
"Estamos ansiosos para prosseguir com os estudos do osso e assim que esses forem concluídos e publicados, ele retornará para sua cidade de origem e para o museu do Vale dos Dinossauros, como obrigatoriamente deve ser quando a ciência se faz pensando no povo. Ali, poderá ser apreciado pelos cidadãos de hoje e de todas futuras gerações sousenses, inspirando, quem sabe, futuros cientistas", revelou.
Foto: Cientistas estiveram em Sousa e coletaram material ósseo
Créditos: Reprodução/ Folha do Sertão
A pesquisadora revelou, ainda, que o sítio fossilífero de Sousa se destaca pela qualidade de preservação e quantidade de vestígios, como pegadas. Ela disse que se orgulha de ter em solo brasileiro o que chamou de 'essa maravilhosa passarela pré-histórica' e alerta para sua preservação.
"Se destruído esse patrimônio, nada poderá substituí-lo, pois nada será igual. As pegadas de Sousa são um instante sem correspondentes preservado no tempo, se isso for perdido, será perdida irrecuperavelmente uma página da história da vida em nosso planeta - e uma das mais maravilhosamente preservadas, um dos contos mais bem escritos", desabafou.
Centro paleontológico local
Uma das coisas que mais chocaram a pesquisadora Aline Ghilardi foi o fato do sítio de Sousa não possuir um paleontólogo. Nem no museu, aonde a coleção de fósseis é gerida, existe um profissional.
"Todo o patrimônio paleontológico está nas mãos de órgãos não diretamente ligados à Paleontologia, e por mais que existam pessoas que se esforcem, elas não são profissionais da área. A gestão desse patrimônio exige a presença de um paleontólogo", reclamou.
Aline Ghilardi mostrou também a necessidade de um centro paleontológico local. Ela disse que um campus avançado da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e um Instituto Federal de Educação estão sendo construídos em Sousa e isso poderia ser aproveitado para a contratação de um ou mais paleontólogos e para a formação de um núcleo de pesquisas paleontológicas na região.
A pesquisadora citou ainda a possibilidade um curso de graduação em Biologia ou Geologia para formar estudantes para auxiliar nas pesquisas.
Na opinião de Aline Ghilardi, um centro paleontológico local garantiria a realização contínua de pesquisas com os fósseis e rochas da área e ainda a melhor gestão do patrimônio paleontológico de Sousa e região.
Ela acredita que a permanência do material fóssil na localidade aonde foi coletado sem dúvida contribuiria para sua preservação. "Quem quer que quisesse estudar esse material, de qualquer universidade do Brasil ou do mundo, teria que se remeter a esse centro. Já está na hora de Sousa amadurecer a esse ponto", opinou.
Diversidade
Aline Ghilardi informou que as pegadas encontradas em Sousa são algumas das mais bem preservadas do mundo e que o local abriga um dos sítios paleontológicos mais importantes do Brasil, considerando a idade de seus depósitos.
Os achados fósseis lá encontrados ajudam a completar as páginas da grande história de vida no planeta Terra e a compreender sua evolução e mudança ao longo do tempo. "Eles têm nos ajudado entender a distribuição e a diversidade de animais que existiram nessa região, em especial os dinossauros".
As pegadas encontradas no sítio paleontológico de Sousa, de acordo com a especialista, indicam a presença de alguns tipos de dinossauros que ainda não foram detectados no registro fossilífero do território brasileiro por meio de evidências diretas como ossos e dentes.
"Esse é o caso dos dinossauros ornitísquios, por exemplo, que inclui uma série de dinossauros herbívoros especializados, como os ornitópodes e os thyreophora. Isso amplia a diversidade de dinossauros que habitaram o nosso território no passado e ajuda a entender o cenário faunístico da América do Sul durante o início do Cretáceo (entre 145 e 125 milhões de anos atrás), quando nosso continente e a África ainda eram unidos e os animais migravam de um lado para o outro com relativa facilidade".
Patrimônio precisa ser preservado
Na opinião da paleontóloga Aline Ghilardi, o patrimônio paleontológico de Sousa deveria receber mais atenção. Ele disse que muito dinheiro foi investido ali para a construção de um parque, mas que só isso não basta. É preciso que a população seja conscientizada da importância do patrimônio que a rodeia.
"As pegadas fazem parte do cotidiano da população, mas as pessoas não entendem ainda porque elas devem ser arrancadas e levadas para museus. Todos se aproveitam da fama dos dinossauros para avivar o comércio local, mas ninguém entende o seu real significado e importância. Acredito que para preservar o patrimônio paleontológico daquela região deveria ser feito um amplo esforço de informação e sensibilização junto à população", ratificou.
A paleontóloga acredita que um caminho seria a realização de oficinas, cursos e palestras nas escolas e ainda a distribuição de cartilhas didáticas, promoção de livros e filmes sobre o tema e a visita direta à população para que as pessoas se sintam incluídas no processo. "Se não for assim, o tema 'dinossauro' acaba virando piada", opinou.
Ela citou ainda as universidades locais e regionais, aliadas ao poder público, como promotores de projetos focando essa linha de ação e disse que a UFPE, através do Paleolab, que é coordenado pela professora Alcina Alcina Barreto, tem realizado projeto no interior de Pernambuco com objetivo de preservar o patrimônio paleontológico do Araripe e que os resultados têm sido muito positivos.
MPF moveu ação para impedir destruição
Há dois anos, o Ministério Público Federal ajuizou ação contra o Dnit e Sudema por conta da destruição de cercas feitas com pedras que tinham pegadas de dinossauros no município de São João do Rio do Peixe.
De acordo com o MPF, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) havia identificado a importância do sítio paleontológico de 2,5 quilômetros de cercas com placas de rochas feitas há mais de cem anos pela população local para delimitar propriedades. Essas cercas foram destruídas para a construção da rodovia federal BR 405, sem que sua importância cultural fossem analisadas e levadas em conta.
Foto: Cercas centenárias tinham rochas com pegadas de dinossauros
Créditos: Reprodução/ Facebook/ Luiz Carlos
Em outubro do ano passado, num Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre MPF e Dnit e Sudema, os dois órgãos se comprometeram a cumprir medidas para a regularização do processo de licenciamento ambiental de três obras, realizadas sem a devida autorização do Iphan, em áreas de preservação, e também compensar pelos danos causados ao patrimônio arqueológico e paleontológico nacional.
As obras são as seguintes: pavimentação da BR 434/PB (trecho Uiraúna e Poço Dantas) do km 0,0 ao km 18,0; pavimentação da BR 426/PB (trecho Piancó, Santana dos Garrotes e Nova Linda) do km 65,60 ao km 95,5; e obras de implantação e pavimentação BR 405/PB (trecho São João do Rio Peixe e Marizópolis) do km 36,5 ao km 54,5.
Entre as medidas compensatórias pela destruição dos sítios paleontológicos, o Dnit terá que realizar obras visando a socialização, regularização do uso turístico e educação patrimonial em sítios arqueológicos e paleontológicos na área do Vale dos Dinossauros e ainda fazer um levantamento dos sítios paleontológicos da área denominada Vale dos Dinossauros em 20 municípios da Paraíba.
A área tombada pelo Iphan e que soma cerca de 700 quilômetros quadrados é penalizada pela de falta de estudos, mapeamento e proteção. O descaso pode ser verificado na própria Reserva Técnica do Museu do Monumento Natural do Vale dos Dinossauros. Os achados com vestígios de pegadas são armazenadas de forma amontoada, com peças sobre peças, sem nenhuma organização.
Peça deve ser analisada por um paleontólogo e após comprovada a originalidade, ficará em exposição e fará parte do acervo do museu do Vale dos Dinossauros, em Sousa
Garoto mostra pedra com pegada de dinossauro
Um garoto de sete anos achou uma pedra com uma pegada de dinossauro, quando brincava no quintal de casa, esta semana, no município de Sousa, no Sertão do estado, a 477 de João Pessoa.
Matheus Dannylck, correu para dizer sobre sua descoberta ao pai, o fotógrafo Saullo Dannylck, que naquele momento não deu muita importância ao que o filho lhe dizia com voz eufórica, "papai achei uma pedra com 'buraco dos dedinhos'". Sem dar muita importância, Saullo prometeu que depois iria dar uma olhada no que o filho tinha encontrado.
Achando que o pai não tinha dado muita importância ao que ele dissera, Matheus foi até o local onde tinha encontrado a pedra e a retirou para levar até Saullo. "Papai, eu tirei a pedra e trouxe para o senhor ver".
Ao observar a peça que Matheus tinha mostrado, o fotógrafo percebeu que poderia tratar-se realmente de uma pegada de dinossauro e a encaminhou para o setor de reserva técnica do Monumento Natural do Vale dos Dinossauros, no município de Sousa, que já possui uma área de conservação, criada em 2002, com um dos mais importantes sítios paleontológicos do mundo.
A peça deve ser analisada por um paleontólogo e após comprovada a originalidade, ficará em exposição e fará parte do acervo do museu do Vale dos Dinossauros. Além de Sousa, mais 29 cidades do Sertão da Paraíba fazem parte da área de conservação do sítio paleontológico que é uma das áreas com maior incidência de pegadas de dinossauros já encontradas no planeta.
No mês de fevereiro deste ano, também no município de Sousa, o aposentado Luiz Carlos da Silva Gomes encontrou um fóssil que aparentemente seria de uma tíbia de dinossauro. O fóssil foi retirado de uma rocha na zona rural de Sousa e encaminhada para o Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal de Pernambuco, onde está sendo estudado.
Em contato com a paleontóloga Aline Ghilardi, doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colaboradora do Laboratório de Paleontologia (Paleolab) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a pesquisadora informou que esses tipos de vestígios são comuns em Sousa, pois o município, assim como os demais que fazem parte do sítio paleontológico, tanto no Sertão da Paraíba como no estado vizinho do Ceará, estão incluídos nas bacias sedimentares com rochas portadoras de fósseis.
Aline explicou que bacias sedimentares são áreas onde se acumularam sedimentos ao longo do tempo, que posteriormente são transformados em rocha, ajudando a preservar um registro de mudanças ambientais e ecológicas do passado, ou seja, "são como livros de registro de eventos pretéritos, cujas páginas são camadas de rochas".
A paleontóloga informou que a idade das rochas na região de Sousa, correspondente ao período em que os dinossauros dominaram a terra, e o ambiente que ali existia favoreceram à preservação de vestígios fósseis, como pegadas.
"Esses vestígios fósseis e as estruturas presentes nas rochas da região nos ajudaram a entender que entre 145 e 125 milhões de anos atrás, a região era coberta por lagos e rios e borbulhava de vida. Já foram encontrados ali não só registros fósseis de dinossauros, mas também de quelônios, crocodyliforme, plantas e diversos invertebrados", revelou.
A paleontóloga contou que esses animais caminhavam nas bordas dos lagos e deixavam seus registros, assim como acontece na atualidade quando caminhamos por um substrato mole, como areia e lama, e deixamos nossas pegadas.
Nova espécie
O material ósseo de dinossauro retirado de Sousa no início deste ano é único na região e trata-se de um osso longo, mas não se sabe ainda de qual parte dos membros e nem a identidade do dinossauro. A pesquisadora Aline Ghilardi informou que é o primeiro registro ósseo de dinossauro achado em Sousa e o mais antigo para o Cretáceo do Brasil. Ela acredita que possa ser uma nova espécie.
"Certamente é um novo animal, mas dificilmente poderá receber um nome pois temos apenas um osso em mãos, o que não é suficiente, cientificamente falando, para caracterizar oficialmente uma nova espécie. Isso não o impedirá de ter um apelido informal...".
Aline informou que o material ainda está em preparação para estudo no Paleolab e que a análise do achado terá a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) do campus do município de Areia.
Com os estudos e a identificação do material ósseo encontrado em Sousa, finalmente um dos dinossauros locais terá sua identidade diretamente reconhecida e a pesquisadora disse que é por isso que a descoberta desse registro foi tão badalada.
Ela informou que em locais aonde se preservam pegadas, dificilmente se preservam ossos, e por isso é que o osso encontrado em Sousa é tão especial e mostra o potencial da região para estudos futuros.
"Estamos ansiosos para prosseguir com os estudos do osso e assim que esses forem concluídos e publicados, ele retornará para sua cidade de origem e para o museu do Vale dos Dinossauros, como obrigatoriamente deve ser quando a ciência se faz pensando no povo. Ali, poderá ser apreciado pelos cidadãos de hoje e de todas futuras gerações sousenses, inspirando, quem sabe, futuros cientistas", revelou.
Foto: Cientistas estiveram em Sousa e coletaram material ósseo
Créditos: Reprodução/ Folha do Sertão
A pesquisadora revelou, ainda, que o sítio fossilífero de Sousa se destaca pela qualidade de preservação e quantidade de vestígios, como pegadas. Ela disse que se orgulha de ter em solo brasileiro o que chamou de 'essa maravilhosa passarela pré-histórica' e alerta para sua preservação.
"Se destruído esse patrimônio, nada poderá substituí-lo, pois nada será igual. As pegadas de Sousa são um instante sem correspondentes preservado no tempo, se isso for perdido, será perdida irrecuperavelmente uma página da história da vida em nosso planeta - e uma das mais maravilhosamente preservadas, um dos contos mais bem escritos", desabafou.
Centro paleontológico local
Uma das coisas que mais chocaram a pesquisadora Aline Ghilardi foi o fato do sítio de Sousa não possuir um paleontólogo. Nem no museu, aonde a coleção de fósseis é gerida, existe um profissional.
"Todo o patrimônio paleontológico está nas mãos de órgãos não diretamente ligados à Paleontologia, e por mais que existam pessoas que se esforcem, elas não são profissionais da área. A gestão desse patrimônio exige a presença de um paleontólogo", reclamou.
Aline Ghilardi mostrou também a necessidade de um centro paleontológico local. Ela disse que um campus avançado da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e um Instituto Federal de Educação estão sendo construídos em Sousa e isso poderia ser aproveitado para a contratação de um ou mais paleontólogos e para a formação de um núcleo de pesquisas paleontológicas na região.
A pesquisadora citou ainda a possibilidade um curso de graduação em Biologia ou Geologia para formar estudantes para auxiliar nas pesquisas.
Na opinião de Aline Ghilardi, um centro paleontológico local garantiria a realização contínua de pesquisas com os fósseis e rochas da área e ainda a melhor gestão do patrimônio paleontológico de Sousa e região.
Ela acredita que a permanência do material fóssil na localidade aonde foi coletado sem dúvida contribuiria para sua preservação. "Quem quer que quisesse estudar esse material, de qualquer universidade do Brasil ou do mundo, teria que se remeter a esse centro. Já está na hora de Sousa amadurecer a esse ponto", opinou.
Diversidade
Aline Ghilardi informou que as pegadas encontradas em Sousa são algumas das mais bem preservadas do mundo e que o local abriga um dos sítios paleontológicos mais importantes do Brasil, considerando a idade de seus depósitos.
Os achados fósseis lá encontrados ajudam a completar as páginas da grande história de vida no planeta Terra e a compreender sua evolução e mudança ao longo do tempo. "Eles têm nos ajudado entender a distribuição e a diversidade de animais que existiram nessa região, em especial os dinossauros".
As pegadas encontradas no sítio paleontológico de Sousa, de acordo com a especialista, indicam a presença de alguns tipos de dinossauros que ainda não foram detectados no registro fossilífero do território brasileiro por meio de evidências diretas como ossos e dentes.
"Esse é o caso dos dinossauros ornitísquios, por exemplo, que inclui uma série de dinossauros herbívoros especializados, como os ornitópodes e os thyreophora. Isso amplia a diversidade de dinossauros que habitaram o nosso território no passado e ajuda a entender o cenário faunístico da América do Sul durante o início do Cretáceo (entre 145 e 125 milhões de anos atrás), quando nosso continente e a África ainda eram unidos e os animais migravam de um lado para o outro com relativa facilidade".
Patrimônio precisa ser preservado
Na opinião da paleontóloga Aline Ghilardi, o patrimônio paleontológico de Sousa deveria receber mais atenção. Ele disse que muito dinheiro foi investido ali para a construção de um parque, mas que só isso não basta. É preciso que a população seja conscientizada da importância do patrimônio que a rodeia.
"As pegadas fazem parte do cotidiano da população, mas as pessoas não entendem ainda porque elas devem ser arrancadas e levadas para museus. Todos se aproveitam da fama dos dinossauros para avivar o comércio local, mas ninguém entende o seu real significado e importância. Acredito que para preservar o patrimônio paleontológico daquela região deveria ser feito um amplo esforço de informação e sensibilização junto à população", ratificou.
A paleontóloga acredita que um caminho seria a realização de oficinas, cursos e palestras nas escolas e ainda a distribuição de cartilhas didáticas, promoção de livros e filmes sobre o tema e a visita direta à população para que as pessoas se sintam incluídas no processo. "Se não for assim, o tema 'dinossauro' acaba virando piada", opinou.
Ela citou ainda as universidades locais e regionais, aliadas ao poder público, como promotores de projetos focando essa linha de ação e disse que a UFPE, através do Paleolab, que é coordenado pela professora Alcina Alcina Barreto, tem realizado projeto no interior de Pernambuco com objetivo de preservar o patrimônio paleontológico do Araripe e que os resultados têm sido muito positivos.
MPF moveu ação para impedir destruição
Há dois anos, o Ministério Público Federal ajuizou ação contra o Dnit e Sudema por conta da destruição de cercas feitas com pedras que tinham pegadas de dinossauros no município de São João do Rio do Peixe.
De acordo com o MPF, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) havia identificado a importância do sítio paleontológico de 2,5 quilômetros de cercas com placas de rochas feitas há mais de cem anos pela população local para delimitar propriedades. Essas cercas foram destruídas para a construção da rodovia federal BR 405, sem que sua importância cultural fossem analisadas e levadas em conta.
Foto: Cercas centenárias tinham rochas com pegadas de dinossauros
Créditos: Reprodução/ Facebook/ Luiz Carlos
Em outubro do ano passado, num Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre MPF e Dnit e Sudema, os dois órgãos se comprometeram a cumprir medidas para a regularização do processo de licenciamento ambiental de três obras, realizadas sem a devida autorização do Iphan, em áreas de preservação, e também compensar pelos danos causados ao patrimônio arqueológico e paleontológico nacional.
As obras são as seguintes: pavimentação da BR 434/PB (trecho Uiraúna e Poço Dantas) do km 0,0 ao km 18,0; pavimentação da BR 426/PB (trecho Piancó, Santana dos Garrotes e Nova Linda) do km 65,60 ao km 95,5; e obras de implantação e pavimentação BR 405/PB (trecho São João do Rio Peixe e Marizópolis) do km 36,5 ao km 54,5.
Entre as medidas compensatórias pela destruição dos sítios paleontológicos, o Dnit terá que realizar obras visando a socialização, regularização do uso turístico e educação patrimonial em sítios arqueológicos e paleontológicos na área do Vale dos Dinossauros e ainda fazer um levantamento dos sítios paleontológicos da área denominada Vale dos Dinossauros em 20 municípios da Paraíba.
A área tombada pelo Iphan e que soma cerca de 700 quilômetros quadrados é penalizada pela de falta de estudos, mapeamento e proteção. O descaso pode ser verificado na própria Reserva Técnica do Museu do Monumento Natural do Vale dos Dinossauros. Os achados com vestígios de pegadas são armazenadas de forma amontoada, com peças sobre peças, sem nenhuma organização.
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