30.07.2013 - 11:01
Segundo Rosa, os impactos poderão ser semelhantes aos
observados em Boa Viagem, em Recife. Na Paraíba, seriam afetadas as
praias do Litoral Sul, como Pitimbu, Praia Bela e até Tambaba.
O risco de um ataque de tubarão no
litoral paraibano é ínfimo, mas essa situação pode mudar, caso seja
construído o Porto de Goiana (PE), que tem sido estudado, nos últimos
anos, pelo Governo de Pernambuco. O alerta é do biólogo, oceanógrafo e
especialista em tubarões e arraias, Ricardo Rosa, que é também professor
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Segundo Rosa, os impactos
poderão ser semelhantes aos observados em Boa Viagem, em Recife. Na
Paraíba, seriam afetadas as praias do Litoral Sul, como Pitimbu, Praia
Bela e até Tambaba.
Isso acontece porque, conforme explica o pesquisador, a construção desse
tipo de obra pode impactar profundamente o bioma aquático, como fez o
Porto de Suape, no litoral pernambucano. Além do tráfego intenso de
navios na costa (que faz com que os tubarões sejam atraídos e entrem em
correntes de deriva, que os fazem chegar às praias urbanas), há fatores
como a degradação dos ambientes naturais, como os arrecifes e os
estuários.
“Para algumas espécies que vivem mais nos ambientes de arrecife, como
o tubarão-lixa, a alimentação já está comprometida pela degradação e
pela pesca. Então, eles se aproximam do litoral”, explicou.
Diferente de Pernambuco – que tem mais de 50 incidentes envolvendo
tubarões e banhistas –, a Paraíba só tem um registro de ataque, ocorrido
ainda no começo do século passado. A depender da própria ecologia
paraibana, esse risco continua a ser mínimo, ainda que o Porto de
Cabedelo se expanda.
“Em Suape, a circulação marinha foi alterada. Eles fizeram
quebra-mares e chegaram a modificar o estuário. Em Cabedelo, não. Só
existe um quebra mar e a dragagem, que não foi tão grave. Não é que não
exista possibilidade, mas é mais remota, também pelas características do
nosso litoral, que não tem grandes estuários e é mais protegido, com
arrecifes e sem canais profundos próximos às praias”, observou Ricardo
Rosa.
Com o Porto de Goiana, entretanto, a ameaça viria de Pernambuco. “Se ali
houver modificação ambiental significativa, os tubarões podem se
deslocar para o nosso Litoral Sul. Essas correntes de deriva costeira
são, em geral, no sentido sul para o norte”, explicou. É por isso que
estaria ameaçada a balneabilidade em praias de cidades como Pitimbu e
Acaú.
Vídeo mostra tubarão
Nos últimos dias, um vídeo está circulando na internet, mostrando um
tubarão-tigre morto na Praia da Penha, em João Pessoa. Apesar disso, a
bióloga Rita Mascarenhas explica que a captura ocorreu ainda em junho,
ressaltando que a população não deve temer, uma vez que se trata de um
animal capturado em alto mar. O biólogo e oceanógrafo Ricardo Rosa
também tranquiliza a população, embora destaque que algumas espécies se
aproximam do litoral, para dar à luz.
“As fêmeas adultas do tubarão-tigre e do tubarão-martelo podem ser
pescadas bem perto da praia, porque elas vêm parir em águas muito rasas.
Isso ocorre normalmente, mas, nesses períodos, esses animais nem se
alimentam. Eles não são risco potencial”, observou. Além do
tubarão-tigre, são espécies comuns no litoral paraibano o cação-frango e
o cação-lixa.
Turista morta em Recife
Uma turista de São Paulo foi morta na segunda-feira da semana passada,
após um ataque de tubarão, na praia de Boa Viagem, em Recife (PE). Bruna
Gobbi tinha 18 anos e se encontrava numa área sinalizada como de grande
risco de ataques. O oceanógrafo Ricardo Rosa explica que, embora a
espécie não tenha sido identificada, provavelmente o tubarão estava em
busca de alimento, já que não é agressivo. “Mas, sua característica é o
reconhecimento do alimento através da mordida, por isso deve ter mordido
a jovem para identificar se aquele alimento o servia ou não”, pontuou.
Respeito ao habitat natural
O oceanógrafo lamentou o fato de que, em geral, as pessoas acreditam que
todos os tubarões são perigosos. “Se fizermos as contas, só 10 espécies
no mundo todo, em relação às 500 que existem, oferecem risco potencial.
Ainda assim, a questão está muito bem colocada pelo Cemit (Comitê
Pernambucano de Monitoramento de Incidentes com Tubarões), através da
professora Rosângela Lessa. Ela diz que o tubarão está no seu ambiente
natural. Se a pessoa sabe que existe risco de encontro, ela está
assumindo esse risco quando vai nadar, surfar... Nós não podemos culpar o
tubarão pelo ataque”, disse, reforçando a importância de obedecer à
sinalização.
Governo de Pernambuco: sem resposta
A reportagem entrou em contato com as secretarias de Imprensa,
Desenvolvimento Econômico e do Governo de Pernambuco, para obter
informações sobre como anda o projeto de implantação de um porto na
cidade de Goiana (PE). Entretanto, até o fechamento desta edição, não
obteve resposta. As informações divulgadas na internet sinalizam,
entretanto, que o projeto já está pronto, sendo analisado pela Fundação
Getúlio Vargas, antes de ser aprovado.
Como evitar ataques
- Ao ir a praias com risco de tubarão, como Boa Viagem, respeite a sinalização;
- Ao entrar no mar, evite ir para o fundo. Fique no raso;
- Verifique a existência de salva-vidas.
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