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segunda-feira, 23 de junho de 2014
Degradação ambiental em João Pessoa
Ocupação
irregular, descarte de lixo em local inapropriado e despejo de esgoto
doméstico e de oficinas poluem três rios da capital.
Katiana Ramos Rizemberg FelipeSucata está sendo descartada irregularmente em reserva ambiental no bairro de Tambiá
Três rios localizados em áreas de preservação
ambiental, em João Pessoa, sofrem com a ocupação irregular e o despejo
de resíduos poluentes, provenientes de oficinas mecânicas e esgoto
doméstico. Outro fator que contribui para a poluição nesses ecossistemas
é o lixo descartado nos locais.
Uma área identificada como reserva ambiental, mantida pela prefeitura
da capital e localizada no bairro de Tambiá, sofre nos últimos cinco
anos, segundo os moradores da localidade, com o descarte de ferro-velho,
incluindo carcaças de veículos e caçambas coletoras de lixo. O problema
foi denunciado pela reportagem do JORNAL DA PARAÍBA em fevereiro deste ano e a retirada do material poluente foi iniciada no mês passado.
Contudo, está havendo apenas a transferência dos materiais para a
parte mais alta do terreno, área que pertence a uma empresa de
construção.
Nessa mesma reserva do bairro de Tambiá passa o rio São Bento, que
segue ainda para os bairros de Padre Zé e Mandacaru. Além de sofrer com o
descarte de lixo doméstico e despejo de esgoto, esse rio recebe ainda
resíduos de oficinas mecânicas localizadas ao longo da avenida Tancredo
Neves, sendo três delas construídas em área de invasão na reserva.
Ainda nessa avenida, um trecho da reserva foi aterrado e no local foi
instalada uma serralharia. Além do descarte do material utilizado no
estabelecimento, a área de preservação recebe ainda pneus velhos, restos
de material de construção e lixo. “Eu lembro que há uns 8 anos isso
aqui era tudo limpo e o pessoal até pescava no rio e tomava banho. Hoje
está nessa situação”, disse a dona de casa Maria Miguel, que mora nas
proximidades.
Os mesmos danos afetam ainda um trecho do Rio Sanhauá, no trecho
entre os bairros do Varadouro e Baixo Róger. Após sair da comunidade do
Porto do Capim seguindo em direção ao Baixo Róger, os principais
poluentes são lixo doméstico e esgoto provenientes das casas das
localidades.
Saindo do Centro em direção à zona sul da capital, oficinas às
margens do rio Jaguaribe, na comunidade Tito Silva, no Castelo Branco,
também estão em situação irregular, segundo informações da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente (Semam). Há três anos, Amilton Moura mantém
uma borracharia nesta área e revela que descarta o material utilizado de
maneira correta. Contudo, ao lado do estabelecimento uma área foi
devastada na margem do rio para abrigar um depósito de material
reciclável.
Outras duas oficinas localizadas no mesmo trecho também podem estar
contaminando o rio com os dejetos. O taxista José Alves mora próximo às
oficinas e revela que os estabelecimentos, assim como a casa dele, não
possuem rede de esgoto e os dejetos são lançados diretamente no rio. “O
pessoal das oficinas diz que junta o óleo e vende. Mas a gente não sabe.
Agora, os esgotos de lá e das casas vão todos para o rio. Outro
problema é o lixo que o pessoal também joga na beira do rio”, lamentou o
morador.
José Alves lembra ainda o tempo em que o rio Jaguaribe ainda não
sofria tanto com a poluição e era área de lazer para os moradores.
“Antigamente, há uns 40 anos, esse rio não estava tão sujo. A gente
tomava banho, o pessoal que criava boi e cavalos dava banho nos bichos.
Era uma maravilha. Hoje, se a gente entrar aí, fica doente”, recorda.
O professor e pesquisador na área de ecologia e ecossistemas
estuarinos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Gilson Moura,
alerta que o desmatamento causado pelas ocupações irregulares e os
dejetos descartados pelas residências e estabelecimentos construídos
comprometem a sobrevida dos rios. Ele lembra ainda que os produtos
químicos despejados podem impermeabilizar os sedimentos no fundo dos
cursos de água e interferir diretamente na sobrevivência da fauna e
flora.
JAGUARIBE RECEBE ESGOTO DE CASAS E ATÉ DA CAGEPA
Com aproximadamente 21 quilômetros de extensão, segundo informações
da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de João Pessoa (Semam), o Rio
Jaguaribe percorre boa parte da Cidade de João Pessoa, até desaguar em
um maceió, nas proximidades do bairro do Bessa. Ao longo do percurso, o
rio recebe esgoto doméstico, resíduos de estabelecimentos comerciais e
até da própria Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa). Além
disso, a ocupação irregular também é uma ameaça à sobrevivência desse
curso de água.
Por onde passa, o rio Jaguaribe margeia a rua do Rio, o bairro São
José e as comunidades São Rafael, no Castelo Branco, e Tito Silva, na
Torre. Destas localidades, a prefeitura identificou ocupações
irregulares nas três últimas. Sendo a situação mais preocupante a dos
moradores do bairro São José. Nesta área, o rio margeia todo o bairro e
os moradores sofrem com inundações todos os anos, durante os períodos
chuvosos.
Na parte mais baixa da comunidade São Rafael, onde o percurso do Rio
Jaguaribe segue por trás do quintal de dezenas de casas, as inundações
durante o inverno são recorrentes.
Morando na comunidade há mais de 30 anos, o mecânico Zezito de Sousa
construiu batentes para impedir a entrada da água na casa onde vive,
após sofrer muitos anos com a invasão da água. “Depois que eu fiz isso
aqui, amenizou mais a situação e não entra muita água na minha casa. Mas
o pessoal que não tem condições de fazer isso, sofre todo ano”,
lamentou.
Pelo mesmo drama passa o estudante Emerson Ferreira. Ele mora na
comunidade desde que nasceu e acredita que a poluição no rio se deve
também aos maus hábitos dos moradores. “O pessoal que mora mais embaixo,
praticamente na beira do rio, joga o lixo no rio. Quando a máquina vem
dragar tiram de tudo, de eletrodomésticos até móveis. Acho que isso
também prejudica e piora a situação quando chove”, disse Emerson.
CAGEPA
A assessoria da Cagepa informou que o despejo de esgotos no Rio
Jaguaribe só ocorre esporadicamente, quando os equipamentos das
Estações de Tratamento param por falta energia elétrica ou quando há
problemas mecânicos. Ainda segundo a assessoria, os dejetos jogados nos
rios também saem de residências que têm sistemas de esgoto
clandestino, cujos poluentes são lançados na rede pluvial.
SEMAM FAZ NOTIFICAÇÕES E CASOS ESTÃO EM ANÁLISE
O chefe de Fiscalização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente
(Semam), Anderson Fontes, confirmou a degradação ambiental provocada
pelas oficinas mecânicas e outros estabelecimentos instalados às
margens dos rios, na capital. Contudo, ele informou que os locais
irregulares já foram notificados pela secretaria e os casos estão em
fase de análise na prefeitura.
“Nós sabemos que ainda existem muitas oficinas instaladas nas margens
dos rios. Existiam mais oficinas, só que com nossas fiscalizações,
junto com a Polícia Florestal, esses estabelecimentos diminuíram.
Sabemos que essas oficinas da Tito Silva foram notificadas, porque não
são regularizadas”, disse o representante da Semam.
Ainda conforme Anderson Fontes, as fiscalizações realizadas pelo
órgão identificam a existência ou não de fossas sépticas, destino dos
resíduos poluentes, esgoto doméstico e coleta de lixo.
“Nós fazemos um serviço de fiscalização e sabemos que áreas próximas
aos rios são desmatadas e as pessoas aproveitam e constroem moradias.
Mas, qualquer pessoa que construir em uma área de preservação pode ser
retirada”, alertou.
Sobre a situação dos estabelecimentos localizados próximo ao rio São
Bento e o despejo de restos de concreto nas margens do rio e na
reserva, o chefe de Fiscalização da Semam adiantou que um projeto para a
recuperação da área está em fase de elaboração na Secretaria Municipal
de Planejamento (Seplan).
Segundo ele, a proposta é transformar a área degradada da reserva em local de convivência para os moradores do entorno.
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