27/10/2012 20h14 - Atualizado em 27/10/2012 20h22
Decisão foi anunciada pelo presidente da Chesf, neste sábado.
Baixa nos reservatórios das hidrelétricas motivou a medida.
Baixa nos reservatórios das hidrelétricas motivou a medida.
Do G1 PE
A partir de segunda-feira (29), as usinas termelétricas vão gerar até
40% da energia consumida no Nordeste. O anúncio foi feito pelo
presidente da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), João
Bosco de Almeida, no Recife, neste sábado (27). O apagão que deixou os
nove estados nordestinos e mais algumas localidades brasileiras às
escuras por até quatro horas, de quinta (25) para sexta-feira (26),
disparou um alerta sobre o sistema elétrico brasileiro. Na ocasião, 25%
da energia consumida pelo Nordeste estavam sendo gerados por usinas
termelétricas.
O Operador Nacional do Sistema (ONS) determinou que as 33 térmicas do
Nordeste estejam prontas para ampliar esse percentual. A medida foi
necessária por causa da falta de chuvas na bacia do São Francisco, onde
ficam nove usinas da Chesf. A região atravessa o final do período seco e
as condições dos reservatórios são preocupantes. A barragem de
Sobradinho, na Bahia, que garante a produção de 90% da energia
hidrelétrica consumida no Nordeste, está com apenas 24% da capacidade.
Temelétricas vão ajudar a suprir a energia consumida na região Nordeste (Foto: Reprodução / TV Globo) |
É para garantir esse abastecimento que as termelétricas foram
acionadas. “Neste momento, o Operador Nacional do Sistema explora o
máximo que pode das usinas hidrelétricas e vai complementando com usinas
térmicas, sempre numa escala de preço. As usinas térmicas mais baratas
entram primeiro do que aquelas que têm o preço mais alto. Isso é
necessário para que a gente preserve o saldo de água que temos nos
reservatórios até o período chuvoso, que ocorre no mês de outubro, no
caso da bacia do São Francisco”, explica João Bosco de Almeida.
O problema é que as termelétricas, que queimam gás ou óleo combustível,
são poluentes e produzem uma energia até cinco vezes mais cara do que
as hidrelétricas, movidas pela força das águas. Essa conta vai sobrar
para os consumidores. “À medida que as térmicas vão entrando no sistema,
o custo da energia vai aumentando e isso é calculado no ano seguinte,
no reajuste tarifário das concessionárias. A conta será paga por todos
os brasileiros, independentemente do local onde essa térmica é
utilizada. Se for no Sul, no Sudeste ou aqui, isso é rateado por todos
os consumidores do país”, informa.
Com mais de 50 anos de atuação no setor elétrico, João Paulo Aguiar, do
núcleo Nordeste da ONG Ilumina, afirma que o problema não é na geração,
mas na transmissão da energia para a região. O especialista reconhece
que a operação das usinas termelétricas é necessária, mas tem seu preço.
"O prejuizo é o custo. A água é gratuita, a térmica vai a centenas, às
vezes até a milhares de reais, afora a poluição", diz Aguiar.
Sabotagem descartada
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, afirmou na tarde de sexta-feira (26) que "não há a menor hipótese de uma sabotagem" na série de apagões verificadas no país. Segundo dados do governo, foram quatro ocorrências em pouco mais de um mês.
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, afirmou na tarde de sexta-feira (26) que "não há a menor hipótese de uma sabotagem" na série de apagões verificadas no país. Segundo dados do governo, foram quatro ocorrências em pouco mais de um mês.
"Não há a menor hipótese de uma sabotagem. A hipótese seria viável se
você provocasse dano do equipamento, vandalismo. O equipamento teve
problema de proteção, e esse equipamento falhou. Então, não tem menor
probabilidade", afirmou o diretor em coletiva de imprensa após reunião
do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).
O comitê fez uma reunião extraordinária após o apagão que afetou os
nove estados do Nordeste. Segundo o ONS, houve um incêndio em um
equipamento entre duas subestações de energia de Colinas (TO) e
Imperatriz (MA). No dia 22 de setembro houve falta de energia em seis
estados da região Nordeste. No dia 3 de outubro, houve apagão nas
regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte. No dia seguinte, cerca de
70% do Distrito Federal ficou sem luz.
O governo sabe que houve um curto-circuito, mas ainda trabalha para
identificar o que provocou a falha no sistema de proteção, que
possibilitou que o apagão se alastrasse.
Durante a coletiva, o ministro interino de Minas e Energia, Márcio
Zimmermann, voltou a dizer que a situação é inesperada, mas que é
preciso aguardar relatório técnico antes de falar das possibilidades
para a ocorrência do apagão. Segundo ele, um grupo de técnicos do
ministério, do ONS e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) foi
enviado a Colinas para averiguar o problema. Houve um curto-circuito na
linha de transmissão Colinas-Imperatriz.
Mais cedo, ele já tinha dito que os apagões em série "não são normais".
Perguntado se o ministério descartava a hipótese de sabotagem no
sistema elétrico, Zimmermann foi evasivo: "É preciso primeiro esperar
relatório que vem da equipe e que o ONS termine [apuração prévia].
Centenas de profissionais estão trabalhando nisso. Por enquanto, não
haveria sentido [falar em sabotagem]. Então, a partir do momento que tem
avaliações, poderia falar. A única coisa que se pode dizer é que são
adventos difíceis de ocorrer e que no sistema interligado nunca tivemos
situação como essa."
Em outro momento, o ministro disse que o governo trabalha para
"aprofundar todas as alternativas". "A partir do momento que tem evento
probabilisticamente raro você trabalha para aprofundar todas as
alternativas, mas isso de forma serena. Por isso que hoje, preocupado
com essa ocorrência que é diferente, de probabilidade baixíssima,
provavelmente zero, mandar equipe para aprofundar, com fiscalização da
Aneel, justamente para ter avaliação rapidamente e evitar quaisquer
avaliações diferentes", disse.
Segundo o ministro, na próxima semana o ONS deve apresentar um
relatório técnico sobre o episódio. A apuração mais aprofundada, fruto
da verificação feita pelos técnicos do governo no local do incidente,
não tem prazo para ser concluído.
O ministro interino, Márcio Zimmermann, está no cargo em razão de
afastamento para tratamento de saúde do titular Edison Lobão. Zimmermann
afirmou ter falado ao telefone com Lobão, e disse que o ministro
manifestou preocupação com a situação. O interino garantiu ainda que a
presidente Dilma Rousseff acompanha os desdobramentos dos apagões e as
medidas para evitar novos problemas.
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