quarta-feira, 5 de junho de 2013

Rio contaminado deságua no mar

Canal está poluindo praias do Bessa e Intermares; dejetos afetam vida marinha e saúde de banhistas
 
Aline Martins e Tássio Ponce de Leon
 
A abertura de um canal entre um maceió e o mar, na divisa das praias do Bessa, em João Pessoa, e Intermares, em Cabedelo, para a liberação do fluxo de água do Rio Jaguaribe, está contaminando as praias. Desde segunda-feira, uma faixa de água escura contaminada com esgotos escorre no local. A ação se soma à falta de educação das pessoas, que insistem em jogar lixo nas areias, causando risco de doenças e acidentes a banhistas e animais marinhos. Este ano, a ONG Guajiru, já encontrou 85 tartarugas mortas no litoral do Estado, número que assusta, porque, no ano passado todo, foram 100 registros. Hoje é o Dia Mundial do Meio Ambiente e, no próximo sábado, é o Dia dos Oceanos, mas, infelizmente, no cotidiano, o que se percebe é que as ações de preservação ainda não entraram definitivamente nas agendas da população e dos governos.

Dentro do Rio Jaguaribe, que corta a cidade, são despejados esgotos de moradias e lixo. “Nessa área, auando o rio enche, a água fica represada e provoca um mau cheiro. A alternativa é abrir o banco de areia para a água escorrer para o mar. O que deveria ser proibido porque está contaminada, e muitas pessoas que frequentam a praia, não sabem dos riscos que estão correndo. Uma máquina, que ninguém sabe de onde veio, abriu o local”, afirmou um dos moradores que preferiu não se identificar.

Pescadores e banhistas acabam desconhecendo os riscos de doenças causados pela água contaminada. Ontem, a reportagem flagrou um jovem desempregado, pescando peixe para vender e alimentar a família no maceió contaminado. “Moro no Renascer e venho todos os dias aqui, porque não tenho outro meio para comprar comida”, revelou.

A presidente da ONG Guajiru, a bióloga Rita Mascarenhas, disse que as mortes das tartarugas são consequências da poluição no mar, pois as tartarugas confundem o plástico com alimento e acabam consumindo o lixo. Em 11 anos de trabalho, a ONG registrou a morte de 850 tartarugas. Ainda de acordo com ela, na segunda-feira, os moradores e banhistas sentiram o mau cheiro no mar. “O esgoto doméstico e os resíduos jogados no mar prejudicam a vida dos animais marinhos que acabam morrendo”, afirmou.

Segundo a bióloga, é natural que a água do rio deságue no mar. No entanto, precisa ser tratada antes disso acontecer. “No Ministério Público há mais de 20 denúncias movidas pela população e órgãos do meio ambiente sobre esse caso”, afirmou, acrescentando que a ONG Guajiru, mesmo sem sede, continua com palestras em escolas e na universidade.

Mata Atlântica na PB

O Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado hoje, não traz boas notícias para a Paraíba. Primeiro, porque, conforme o último levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica em que o Estado foi avaliado (2008), só havia 8,08% restantes da vegetação característica de mata atlântica; em segundo lugar, porque, embora tenha sido divulgado ontem um atlas detalhado sobre os remanescentes florestais do bioma em todo o País, a Paraíba não foi analisada, em virtude da grande concentração de nuvens sobre o território paraibano. Na prática, isso significa que é impossível avaliar se o desmatamento no Estado aumentou no decorrer dos últimos anos.

“Supusemos que não houve supressão, porque não conseguimos ver”, disse o pesquisador e coordenador técnico do atlas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Flávio Ponzoni, que também integra as pesquisas. A intenção, porém, é de que novas análises sejam feitas já no próximo ano. “Infelizmente, a cobertura de nuvens tem um elevado índice não só na Paraíba, mas em todos os Estados do Nordeste, por isso não foi possível detectar nada. Não podemos inventar número”, observou.

Por outro lado, se considerados os últimos dados de que dispõe o Estado, ainda assim a situação preocupa, à medida que hoje restam 8,5% do bioma em todo o Brasil, percentual que é superior ao registrado na Paraíba em 2008 (8,08%). Em números absolutos, são 48.296 hectares reminiscentes de um universo que originalmente era de 597.979 hectares, no Estado.

Brasil perdeu floresta

O estudo divulgado ontem revela que o Brasil perdeu, de 2011 a 2012, 23.548 hectares (ha) de vegetação nativa (235 km²), o equivalente a 23 mil campos de futebol. Na comparação dos 10 Estados avaliados em todos os períodos (BA, ES, GO, MG, MS, PR, RJ, RS, SC e SP), o aumento foi de 29% em relação ao período anterior (2010-2011) e de 23% em relação aos três últimos anos (2008-2011). A taxa anual de desmatamento é a maior desde 2008.

No ranking dos Estados, Minas Gerais, Bahia, Piauí e Paraná são os que têm a situação mais crítica. Minas é o campeão do desmatamento pela quarta vez consecutiva, sendo responsável pela metade da destruição da Mata Atlântica no período analisado, com total de 10.752 hectares do bioma perdidos, revelando aumento de 70% na taxa de desmate, comparado com o período anterior. Em segundo lugar no ranking, a Bahia perdeu 4.516 hectares de floresta, seguida do Piauí, monitorado pela primeira vez, mas que já perdeu 2.658 hectares.

O vizinho Pernambuco foi o único Estado que perdeu área de manguezal: 17 hectares. Na Mata Atlântica, o total de vegetação de mangue corresponde a 224.954 ha, sendo que Bahia (61.478 ha), Paraná (33.422 ha), São Paulo (24.891 ha) e Sergipe (22.959 ha) são os Estados que possuem as maiores extensões.

Sudema

O major Luiz Tibério, chefe de Fiscalização da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), informou que mandaria uma equipe verificar a denúncia. “Vamos mandar uma equipe para verificar o que aconteceu, quem fez a retirada de areia e se há assoreamento”, disse, destacando que a Sudema não realizou nenhuma atividade recente no local.

Programação

Hoje, haverá atividades alusivas ao meio ambiente em escolas, ONGs e órgãos públicos. A Emepa, por exemplo, realiza uma amostragem de espécies da Mata atlântica de valor medicinal. A Sudema fará palestras, a partir das 8h, no auditório da OAB, sobre preservação e sustentabilidade. A Semam (PMJP) entrega kit de DVDs a secretarias da Prefeitura.

Tubarão é capturado

Um tubarão-martelo foi capturado ontem, em Jacumã, no Litoral Sul do Estado. Trata-se de uma fêmea adulta, de cerca de quatro metros e mais de meia tonelada. Dentro dela, foram encontrados pelo menos quatro filhotes, que ainda estavam sendo gerados. A bióloga e coordenadora do projeto Guajiru, Rita Mascarenhas, relatou que a presença do animal nas águas paraibanas, próximo à costa, é bastante rara e improvável, por isso, segundo ela, os banhistas não devem ficar preocupados em entrar no mar. “A captura deve ter ocorrido a pelo menos 2 km da costa”, disse.

Segundo Rita, o tubarão-martelo já foi mais comum no litoral nordestino, mas, devido à pesca predatória, tem diminuído sua ocorrência. Embora o animal seja de grande porte, podendo chegar a seis metros, não constitui uma ameaça aos banhistas, tendo em vista que os ataques a humanos só ocorrem em casos específicos. “Quando ouvimos falar de ataque, é porque o homem está invadindo o território ou o tubarão está com muita fome. No caso de Pernambuco, os ataques estão muito relacionados à degradação ambiental. O animal já não tem alimento, assim, quando ele sente vibração na água, seja de quem for, ele vai atrás e acaba mordendo, porque confunde”, disse.

Ainda assim, segundo Rita Mascarenhas, o tubarão-martelo ainda não está na lista dos animais ameaçados no Brasil e pode ser caçado, apesar de constar nas listas internacionais. Os pescadores, que alegaram ter capturado o tubarão acidentalmente, após ele ficar preso à rede de pesca.


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