Construção do
canal Acauã-Araçagi gerou 1,5 mil empregos diretos e outras centenas de
indiretos na região do Vale do Mamanguape.
Aos 54 anos de idade, João Batista de Lima,
casado e pai de dois filhos, já passou por maus bocados em casa, quando,
por falta de trabalho, tinha dificuldades para fazer a feira e garantir
o sustento da família. Ele, que aprendeu o ofício de carpinteiro ainda
na adolescência, agora comemora o emprego de carteira assinada e todos
os direitos trabalhistas garantidos. Seu João Batista, há cinco meses,
trabalha na construção das obras do canal Acauã-Araçagi e não consegue
esconder a felicidade.
Seu João chega cedo ao canteiro de obras do lote 1 do canal,
localizado na zona rural do município de Itatuba. Por ser morador de
outra cidade, Gurinhém, ele dorme em alojamento montado para os
trabalhadores da obra e vai para casa aos finais de semana. Esse
emprego, para o carpinteiro, é uma oportunidade de contribuir
positivamente com o futuro dos filhos. “Um homem desempregado não é
ninguém. Graças a Deus, depois que arranjei esse emprego aqui nas obras
do canal nunca mais me faltou dinheiro para fazer a feira. Já passei por
momentos difíceis, só Deus sabe”, afirmou.
Nesse mesmo dia, a reportagem encontrou Edmilson de Lima, que aos 55
anos mostra, com orgulho, as mãos calejadas de uma vida inteira de
trabalho. Seu Edmilson, natural de Itabaiana, pai de família, passou
anos desempregado.
Dependia exclusivamente de trabalhos informais e esporádicos, os
chamados 'bicos'. “É muito ruim quando você não tem um emprego. Quando
eu fiquei sabendo que a obra tinha vaga, vim correndo e fui contratado”,
declarou.
Em sua simplicidade, seu Edmilson olha para o canal Acauã-Araçagi e
segura o choro. Ele sabe que através desse canal, a maior obra hídrica
do governo do Estado, chegarão as águas do rio São Francisco, pelo eixo
leste do projeto do governo federal.
O canal representa um marco para seu Edmilson: há anos ele não
conseguia um emprego de carteira assinada. “Isso foi um presente para
mim e para minha família. Nosso salário é pago direitinho todo mês,
temos refeição, não falta nada”, declarou.
O ajudante de produção Antônio Lúcio da Silva, 47 anos, também estava
desempregado até que iniciaram as obras do canal Acauã-Araçagi. Antes,
ele já havia pensado, inclusive, em tentar a sorte em São Paulo ou no
Rio de Janeiro, onde há promessas de emprego para nordestinos. Para
isso, deixaria para trás a pequena casa que lutou para construir, em
Itabaiana, e o mais importante: a mulher e o filho.
Há 11 meses, Antônio Lúcio trabalha na construção do canal. O
canteiro de obras, em alguns momentos, mais parece um recanto de lazer,
não porque eles não trabalham, mas sim porque é notória a satisfação dos
trabalhadores. “Aqui a gente trabalha feliz, cantando, assobiando, é
uma festa só, porque quem tem um emprego tem motivos de sobra para
comemorar”, afirmou.
OBRAS GERAM EMPREGOS NO VALE DO MAMANGUAPE
A construção do canal Acauã-Araçagi possibilitou a criação de 1,5
mil empregos diretos e outras centenas de indiretos na região do Vale
do Mamanguape. A maioria dos trabalhadores é de Itatuba, Mogeiro,
Itabaiana, Salgado de São Félix e outras cidades próximas. Quando as
vagas foram criadas, as prefeituras anunciaram as oportunidades e logo
apareceram os interessados. Um deles foi José Soares da Silva, 41, que
havia nove meses amargava o peso do desemprego.
Ele contou que sua vida financeira mudou bastante, desde que começou a
trabalhar na construção do canal como carpinteiro. A pouca
escolaridade dele sempre foi um problema a mais para conseguir um
emprego. “Nem meu currículo as empresas aceitavam, mas aqui nas obras
do canal nos deram uma grande oportunidade de trabalhar e ganhar nosso
dinheiro com honestidade”, frisou José Soares.
Para Leonardo Oliveira da Silva, 28, trabalhar nas obras do canal Acauã-Araçagi tem uma representatividade ainda maior.
“Eu nasci e cresci nessa região, já sofri com a seca, vi meus pais
chorarem pela falta de água. Agora tenho orgulho de ajudar na construção
do canal, sei que nunca mais nossas vidas serão as mesmas. Quero dizer
aos meus netos, futuramente, que o avô deles trabalhou diretamente
nessa obra”, declarou Leonardo, que há um ano ocupa a função de armador
na construção.
Também chamado de Canal das Vertentes Litorâneas, a obra trouxe
oportunidades de empregabilidade para operários (entre armadores,
carpinteiros, motoristas, auxiliar de serviços gerais, etc) e
profissionais de nível superior, sendo a maioria engenheiros das áreas
civil e de produção. O lote 1 do canal tem 40,85 km de extensão. Quando
os três lotes estiverem em execução, o número de empregos diretos deve
saltar para três mil e transformar as vidas de trabalhadores, a exemplo
das histórias que foram contadas nessa reportagem.
COMÉRCIO FICA AQUECIDO
A geração de emprego está atrelada ao aquecimento da renda na região
do Vale do Mamanguape. Os 1,5 mil operários consomem, diariamente,
cerca de 80 quilos de feijão, 60 quilos de macarrão, 25 quilos de arroz
e 200 quilos de carne. Boa parte desses alimentos é adquirida pelo
consórcio da obra no comércio do município de Mogeiro, mudando a
realidade também de comerciantes locais, que antes viam os produtos se
estragarem nas prateleiras pela falta de clientela.
Os dez primeiros quilômetros do canal devem ser entregues até o final
do primeiro semestre deste ano, enquanto a obra deve ser concluída em
2015. A previsão inicial era de que a conclusão se desse em 2016. A
obra do canal Acauã-Araçagi está dividida em três lotes: o 1 (em
Itatuba); o lote 2 (que passa por Sapé, Mari, Sobrado e Riachão do
Poço); e o lote 3 (que inclui Cuité de Mamanguape, Araçagi, Itapororoca
e Curral de Cima). A obra cortará fisicamente 12 cidades, mas vai
beneficiar 35. Serão quase 600 mil paraibanos beneficiados com a
chegada da água, que sairá da barragem de Acauã e percorrerá por
gravidade 112,5 km de extensão.
Em março do ano passado a presidente Dilma Rousseff autorizou o
início das obras da segunda etapa do empreendimento que está sob
responsabilidade do Ministério da Integração Nacional em parceria com o
governo do Estado da Paraíba. O canal faz parte do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC-2) e tem investimento aproximado de R$1
bilhão.
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