terça-feira, 11 de março de 2014

Entidade aponta situação inadequada de elefanta na Bica e Semam vê possível mudança para Santuário no Brasil

11/03/2014 | 17h10min


Há pouco mais de uma semana o Parque Zoobotânico Arruda Câmara recebeu a visita de membros do Global Sanctuary for Elephants (Em tradução livre: Santuário Global para Elefantes), que atua no estado do Tennessee, nos Estados Unidos. O grupo realizou um tour pelo Brasil e alguns países da América do Sul visitando vários zoológicos para acompanhar o tratamento de vários elefantes no continente. A elefanta Lady, que vive na “Bica”, recebeu uma atenção especial da organização. 
 
No dia 3 de março o GSfE publicou um laudo técnico em sua página do Facebook (veja no fim da matéria a publicação com o texto original em inglês) dando um parecer sobre a visita que fizeram à Lady e o Parque Zoobotânico Arruda Câmara. Vale ressaltar que em momento algum o Santuário critica a postura da Secretaria de Meio Ambiente de João Pessoa ou os veterinários e demais funcionários do zoológico. Pelo contrário, o desejo e esforço de todos para dar o melhor para Lady é um dos fatores que animou o Santuário a ajudar com a situação.
 
Entretanto, a situação da Lady não é lá muito animadora. Além do pequeno espaço do recinto temporário, os especialistas chamaram atenção para as péssimas condições dos pés da Lady. “Seus pés estão em uma forma abominável. De todos os elefantes com os quais trabalhamos, os pés dela estão no Top 3 dos piores. Lady está de pé na areia, que puxa toda a umidade dos pés do elefante deixando a pele seca. Pequenas áreas de areia são ótimas para os elefantes, mas eles precisam ter a opção de ficar em outros substratos”, afirma o laudo.
O secretário do Meio Ambiente de João Pessoa, Edilton Nóbrega, conversou com o Portal Paraíba nesta terça-feira (11) e explicou um pouco sobre o contato com essa organização norte-americana. A respeito do estado dos pés da Lady, ele ressaltou o fato de que o animal viveu praticamente a vida toda em circos e que ela nunca ficava em um espaço minimamente adequado. “Muitas vezes ela ficava em lugares que só havia chão de concreto, o que é muito pior. Nós sabemos que o chão que ela está agora não é o adequado, mas é mais ameno”, colocou. Edilton também explicou que uma das razões do atraso da construção do recinto definitivo foi uma modificação no projeto para incluir outros tipos de piso para a elefanta.

Novo Recinto e espaço ideal
O GSfE afirma que o zoológico pediu orientação nos preparativos do novo recinto, o que foi concedido. Entretanto: “Nós fomos bastante claros e deixá-los sabendo que não importa quantas melhorias eles façam para o novo recinto, nunca será a opção mais saudável, o espaço (embora muito maior do que o atual) nunca será grande o bastante, ela ficará sozinha, e seus pés precisarão de um compromisso para toda a vida de aparar, medicar, hidroterapia e um cuidado complexo”, informa.
 
O grupo ainda informa que a Lady terá todo cuidado para viver da melhor forma possível no zoológico até que outra solução possa ser resolvida. “Há uma preocupação por parte dos veterinários e da Secretaria de Meio Ambiente, e eles são muito atenciosos às nossas recomendações e estão tentando melhorar a sua situação atual, enquanto procura uma solução à longo prazo. Parte dessa solução é aceitar que quando Elephant Sanctuary Brazil estiver pronto para aceitar elefantes, que a Secretaria do Meio Ambiente irá visitar o ESB, com a intenção de enviar Lady para nós, para viver o resto de sua vida”, colocou.

Mudança para o Santuário
O secretário Edilton Nóbrega admitiu que no futuro Lady poderá deixar a Bica para viver no Santuário de Elefantes do Brasil. “Pode até ir se for melhor para ela. Mas não existe um acordo nesse sentido. Esse lugar ainda não existe e quando estiver pronto nós vamos até lá com os veterinários para conhecer”. De acordo com Edilton, o Santuário será instalado em algum lugar do Centro-Oeste brasileiro.
 
Edilton ainda afirma que existe um grande interesse da Semam e da Bica em atender às orientações dos especialistas. “Essa sociedade está orientando que os veterinários recebam treinamento mais adequado para o tratamento com elefantes. Existem planos para que eles possam atender à cursos e congressos que os atualizem nas questões de zoológico para um animal desse porte. O grupo também disse que pode mandar um especialista aqui para ajudar no tratamento da Lady, e se ele vier será ótimo”, afirmou.
 
O secretário disse também que o prazo para a conclusão do recinto da Lady é para o final deste mês, se não houver nenhum contratempo. “Mas a entrega do recinto não significa que ela será transferida imediatamente. Nós vamos marcar uma data com o pessoal dos Estados Unidos porque eles ficaram de ajudar e ainda será discutido a melhor maneira de fazer isso. É preciso garantir a segurança de todos os envolvidos, tanto das pessoas como do animal”, colocou.
 
Santuário de Elefantes no Brasil
Na página oficial do GSfE eles explicam porque escolheram o Brasil para instalar a primeira “filial”. O fato do país ser grande e ter uma localização central na América do Sul, dessa forma poderá receber elefantes de outros países vizinhos. Além disso o site destaca que existe cerca de 40 elefantes vivendo no Brasil, sendo que 17 deles ainda vivem em circos viajantes ou acorrentados em espaços remotos.
Além da Lady, o GSfE postou informações de outros elefantes no país: duas elefantas-asiáticas no Rio Zoo; cinco elefantes no Estado de São Paulo, sendo uma africana e duas asiáticas na Capital e um casal de asiáticos em um pequeno zoológico na Grande São Paulo; três africanos em Brasília, além de outros. 
 
(Recinto de Koala e Carla, no Rio Zoo. As elefantas vivem separadas)

No Rio Zoo vivem Koala e Carla. A primeira já está no zoológico há décadas e acostumada com o lugar, mesmo que pequeno e pouco adequado. Já Carla se encontra em uma situação muito mais delicada. Os membros do grupo afirmaram quer foi difícil seguir viajem e deixar a elefanta lá da forma que viram. A maior preocupação que eles têm com ela é o estado psicológico. Carla veio de outro zoológico taxada como agressiva e no Rio Zoo vive enclausurada em uma jaula de concreto na maior parte do tempo.
No Zoológico de São Paulo vive Teresita, uma elefanta da espécie africana. O GSfE se surpreende com a expressão tranqüila e calma no rosto do animal, já que foi taxada como louca e agressiva. Teresita vive sozinha e às vezes se arrisca perto do fosso do recinto tentando pegar folhas diferentes.
 
(Teresita tomando "sorvete" em São Paulo)


Também no Zoo de São Paulo vivem duas fêmeas asiáticas, Hangun e Serva. Apesar das duas terem uma área tão grande quanto a da prima africana, vivem trancadas no espaço de concreto. O GSfE afirma que uma das duas está muito acima do peso e tem problemas nas patas. Ambas as elefantas têm um olhar cansado.


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