Recuperação da área da Mata do Buraquinho degradada ainda não foi feita, contrariando ordem de Justiça.
Katiana Ramos
No mesmo posicionamento favorável ao
Ministério Público Federal (MPF) em 2009, a Justiça Federal pediu ainda
que a área degrada em decorrência das ocupações irregulares fosse
recuperada pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) e do
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama). Conforme o decisão judicial, cabe a estes órgãos reflorestar a
área e ainda ao Ibama a responsabilidade de reconstruir a cerca que
limita a área de preservação. No entanto, não é o que se vê no local
onde existiu a comunidade Paulo Afonso.
O muro que delimita a área da Mata do Buraquinho, na faixa que é de
responsabilidade do Ibama, foi reconstruído. Mas há buracos na estrutura
e falta de manutenção durante todo o percurso, o que facilita a ação de
vândalos, que despejam lixo e derrubam árvores da reserva. Na parte da
comunidade São Geraldo, os moradores informam que a coleta de lixo é
realizada regularmente. Eles alegam que a sujeira encontrada dentro da
mata e próximo às residências é de responsabilidade de pessoas que não
são moradoras da comunidade.
O aposentado Antônio Laurentino, que mora na São Geraldo há 16 anos,
revela que o lixo que se acumula na mata é trazido de fora e por pessoas
de outros bairros. Restos de móveis, resíduos domésticos ainda
embalados, além de animais mortos são deixados constantemente na área
verde. “Muita gente coloca o lixo na mata e são pessoas de fora, de
outros bairros.
Pessoas chegam de outros locais, a qualquer hora do dia, e jogam o
lixo aqui. A gente limpa, o carro passa, mas no outro dia fica a mesma
coisa”, reclamou.
Em parte do terreno onde existia a comunidade Paulo Afonso o descaso
com o meio ambiente continua e o descarte inadequado de lixo é o
principal problema. Segundo os moradores da área, quase todos os dias
restos de móveis, eletrodomésticos, entulhos de construção e outros
resíduos são deixados no local. Para se ver livre do mau cheiro e
insetos atraídos pela sujeira, alguns moradores ateiam fogo nos
materiais, o que também pode causar danos à reserva.
O procurador-jurídico da Cagepa, Fábio Andrade, informou que a
empresa, juntamente com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), reconstruiu o muro que delimita a
Mata do Buraquinho, conforme a recomendação judicial. Já sobre o
processo de reflorestamento na área onde existiu a comunidade Paulo
Afonso, o representante da estatal alegou que a empresa já solicitou a
demanda ao Ibama e aguarda uma resposta do órgão federal. No entanto,
ainda não há previsão para a execução do projeto.
A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA tentou contato telefônico com a
superintendência do Ibama para saber mais informações sobre a ação de
reflorestamento. Mas, até o fechamento desta edição não obteve resposta.
INSEGURANÇA E MEDO NO LOCAL
Além da degradação ambiental, as áreas invadidas pelas duas
comunidades também favorecem a crimes, como tráfico de drogas e
estupros. Moradores das proximidades denunciam que adolescentes
estariam utilizando os terrenos abertos na mata para práticas ilegais e
temem ser vítimas da violência.
No trecho da mata onde existiu a comunidade Paulo Afonso, os
moradores denunciam que adolescentes já foram levadas para a reserva e
sofreram abusos sexuais. O local também é propício para esconderijo de
assaltantes. “De vez em quando a gente vê garotos entrando aí com
mulheres. Como o local é esquisito, eles usam para estupros e também
para se esconder da polícia.
À noite aqui é perigoso e muita gente já foi assaltada”, disse um comerciante que preferiu não se identificar.
Já na comunidade São Geraldo, o problema, segundo relato dos moradores, é o tráfico de drogas. A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA
esteve no trecho da comunidade, próximo a um motel, e verificou que um
grupo de jovens e adolescentes utilizava o “quintal” de uma das casas,
localizada praticamente dentro da mata, para usar e comercializar
entorpecentes.
Um morador das proximidades que não quis se identificar relata que é
constante a entrada de adolescentes e adultos no interior da mata.
Segundo ele, a maioria utiliza os fundos das casas como acesso. “Têm
dias que eles entram na mata, em grupo, e passam o dia aí. Depois saem
drogados. Tem gente até de fora mesmo”, completa.
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