Com extensão
de 112,4 quilômetros e cortando 12 cidades, Canal Acauã-Araçagi irá
beneficiar 38 municípios com águas da transposição.
A construção do canal Acauã-Araçagi
representa desenvolvimento da região do Vale do Mamanguape e
sustentabilidade hídrica para a população de 38 municípios. A obra, que
tem investimento de R$ 1 bilhão, e está sendo construída através de
parceria do governo do Estado com o Ministério da Integração, vai
garantir a sobrevivência de famílias que hoje sofrem com a falta de água
na região.
Serão cerca de 600 mil pessoas beneficiadas com a chegada do canal
Acauã-Araçagi, que vai receber as águas da transposição do Rio São
Francisco. Para os pequenos agricultores do município de Cruz do Espírito
Santo, a obra representa esperança. Muitos desses trabalhadores
colecionam lembranças tristes dos anos de seca.
A última delas, entre os anos de 2012/2013, deixou um saldo negativo
de plantações perdidas e animais mortos. A seca é o maior tormento para o
homem do campo, que precisa da terra e da água para garantir a
sobrevivência da família. Sem isso, muitos deixam a mulher e os filhos
em casa e vão para o Sudeste em busca de emprego.
O agricultor Flávio Vieira da Silva, 40 anos, soube da construção do
canal Acauã-Araçagi pela televisão e desde então passou a ter uma nova
perspectiva.
“Quando vi os homens trabalhando na obra, aquela obra gigante, eu
chorei de emoção. Quando a água do canal passar por aqui, nós poderemos
plantar para colocar o alimento na nossa mesa e vender o excedente para
ter o dinheiro de sustentar a família”, declarou.
Na última seca, considerada a pior dos últimos 40 anos por
especialistas, Flávio Vieira perdeu toda a plantação de cana-de-açúcar e
não teve outra alternativa a não ser lamentar. Este ano ele vai
arriscar plantar novamente, mas tem medo que não tenha chuva. A renda da
família é proveniente unicamente da agricultura e do programa Bolsa
Família, do governo federal.
O abastecimento de água na zona rural de Cruz do Espírito Santo é
precário, segundo o agricultor.“Temos água dia sim, dia não”, afirmou.
Por conta disso, a esposa do agricultor trata logo de encher baldes e a
cisterna, no quintal da casa, para garantir água para beber, preparar as
refeições, dar o banho das crianças e lavar roupas.
A falta de água incomoda a família, que deposita a esperança no Canal
das Vertentes Litorâneas. A colocação de uma cisterna em casa minimizou
o problema, mas está longe de garantir a sustentabilidade hídrica, o
que só será alcançado com a construção do canal. Até um ano atrás,
Flávio percorria 2 quilômetros de bicicleta para pegar água em baldes em
um sítio próximo.
“Fazia pelo menos cinco viagens, indo e vindo.Muito cansativo, mas sei que tudo vai melhorar”, afirmou.
Na casa da aposentada Edith Cabral da Silva, 68, a situação é
parecida. Falta água quase todos os dias. Uma rachadura na cisterna
impede o armazenamento da água. Morando há 18 anos no sítio Dona Helena,
em Cruz do Espírito Santo, ela já perdeu as vezes que ficou sem tomar
banho por conta da falta de água. O problema interfere, também, nos
afazeres domésticos.
“Não posso me dar ao luxo de lavar a casa, isso seria um gasto de água enorme, é até pecado”, comentou.
38 CIDADES BENEFICIADAS
O canal Acauã-Araçagi corta, fisicamente, 12 cidades, mas seu raio
de alcance vai levar água para a população de 38 municípios. Com a água
levada pelo canal, o sonho da irrigação se tornará realidade para os
agricultores dessas localidades.
O canal tem extensão de 112,4 quilômetros e está dividido em três
lotes. No primeiro lote, no município de Itatuba, as obras estão em
ritmo acelerado. Os primeiros dez quilômetros devem ser entregues até o
mês de junho.
O lote 2, que tem 41 quilômetros de extensão, foi instalado na comunidade Curimataú, em Caldas Brandão.
O canal vai passar pelos municípios de Sobrado, Mari, Sapé e Riachão
do Poço. O maior trecho do canal ficará no município de Sapé, que terá
24,9 km de extensão. O canteiro de obras do lote 3 será instalado entre
as cidades de Mamanguape e Araçagi, e tem extensão de 30,58
quilômetros.
O canal terá trechos com largura de 120 metros em aberto, que
receberá revestimento impermeável. A água seguirá por gravidade média
de três centímetros a cada quilômetro.
A obra está sendo realizada através de três consórcios: Marquise, Via
Engenharia e Queiroz Galvão. O canal Acauã é tratado pela Marquise
como “um dos mais relevantes programas de obras estruturantes em
execução no Nordeste”.
A Marquise participa, em consórcio, da execução dos lotes 1 e 2 do
programa, cujos contratos correspondem a aproximadamente R$ 700 milhões.
A Via Engenharia também é responsável pela execução dos lotes 1 e 2.
VALE DO PARAÍBA VAI TER SUSTENTABILIDADE HÍDRICA
A ordem de serviço do lote 2 foi assinada em setembro do ano passado
pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e o
governador do Estado, Ricardo Coutinho.
A obra é considerada a segunda maior do Nordeste, ficando atrás
apenas das obras da transposição do rio São Francisco. O canal é sinal
de esperança para a população do Vale do Paraíba, que já foi uma terra
próspera para a agricultura e pecuária.
A sustentabilidade hídrica vai possibilitar, além do abastecimento, a
irrigação de aproximadamente 15 mil hectares de áreas agricultáveis.
Isso representa que a região vai ter de volta a possibilidade de
prosperidade. O canal complementa os investimentos realizados no eixo
leste, responsável por receber as águas da transposição do Velho Chico.
Com o canal Acauã-Araçagi, a seca não vai deixar de existir, por ser
um fenômeno climático, característico da região do semiárido, mas seus
efeitos serão minimizados.
As famílias terão a segurança hídrica que vai garantir sustentar a
plantação, a criação de gado, a água para beber, para preparar os
alimentos e fazer a higiene pessoal, por pelo menos 30 anos, nas bacias
dos rios Paraíba, Gurinhém, Miriri, São Salvador, Mamanguape, Araçagi e
Camaratuba.
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