Mais de 70% do território sofre do fenômeno que causa transformações drásticas e infertilidade.
Isabela Alencar
Mais de 70% do território do estado da Paraíba está suscetível ao
processo de desertificação. O fenômeno está relacionado com os aspectos
do clima árido, mais evidente nas regiões do Cariri, Sertão e Seridó,
mas a ação do homem é a principal causadora das transformações drásticas
que o solo vem sofrendo. O resultado é a infertilidade de muitas
localidades, que só poderão ser recuperadas depois de décadas da
utilização de técnicas específicas de manuseio da terra.
O pesquisador e chefe geral da Embrapa Algodão, Napoleão Beltrão,
explicou que as práticas que estão sendo utilizadas por moradores e
trabalhadores da zona rural do Estado, têm sido extremamente
prejudiciais à saúde do solo. “O manejo equivocado do solo traz graves
danos ao meio ambiente e as consequências disso são, dentre outras, a
improdutividade do lugar”, alertou. De acordo com o especialista, a
desertificação é a perda da capacidade produtiva dos ecossistemas,
causada pela ação antrópica, ou seja, do homem.
O preocupante, segundo o chefe da Embrapa, é que para cada centímetro
de solo danificado, são necessários mil anos para que a natureza (da
região semiárida) recupere aquele ponto que sofreu os efeitos da
transformação do solo. “Esse processo é geral no Nordeste, mas a Paraíba
é o estado que mais sofre, justamente por ser o mais desertificado”,
disse ele.
Conforme informou, 72% do solo paraibano já faz parte dessa
transformação e a criação de animais de forma desordenada é um dos
principais causadores desse dano. O pesquisador informou que em regiões
como o Cariri e Seridó, criadores de caprinos e gado, especialmente,
costumam exagerar na quantidade de animais por hectare, provocando a
compactação do solo de tal forma que impossibilita o uso para a
agricultura.
Ele explicou dando um exemplo de que, enquanto o ideal é a criação de
um boi para cada 20 hectares, o que se observa nessas regiões é a
criação de 10 animais por cada hectare de terra. “O pisoteamento dos
animais acaba compactando o solo e nem as plantas nativas da Caatinga
conseguem sobreviver a essa degradação”, informou. Além do processo
antrópico, a seca deste ano e a consequente diminuição de chuvas acabam
interferindo na ação.
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