sábado, 22 de setembro de 2012

Falta saneamento em 16,8% das casas na PB

Dados do Censo 2010 do IBGE, revelam que 181.553 domicílios paraibanos são inapropriados para abrigar as famílias. 



Rizemberg Felipe
Mau cheiro e doenças: esgoto a céu aberto é uma das principais causas de doenças, como leptospirose e hepatite

Com uma vassoura nas mãos, a dona de casa Leandra Domingos Pereira tenta reduzir a quantidade de esgoto que corre em frente a sua casa. A água suja, que sai da tubulação da cozinha e do banheiro, deveria seguir para uma estação de tratamento, mas, em vez disso, abre caminho pela rua e se junta a um amontoado de lixo depositado perto dali.
 
“Aqui é muito sofrimento. Esse mau cheiro é tão grande que meus filhos já ficaram doentes. É um aperreio que parece não ter fim”, lamenta a dona de casa.

Leandra reside no bairro do Róger, em João Pessoa, numa área conhecida como “Terra do Nunca”. Apesar da localidade ficar a menos de 500 metros de distância do Centro, os moradores ainda sofrem com a ausência de saneamento básico e estão entre os domicílios considerados inapropriados para a habitação, segundo os critérios adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o Censo Demográfico 2010, a Paraíba possui o total de 1.080.672 domicílios. Destes, 181.553 são considerados inapropriados para abrigar as famílias, representando um índice de 16,8%. O motivo é que eles não apresentam qualquer condição de saneamento básico considerado adequado. Ou seja, elas não estavam conectados à rede geral de abastecimento de água, ao esgotamento sanitário nem tinham acesso à coleta de lixo.

A maior parte dessa população que não tem acesso aos serviços públicos vive na área rural. Dos 250.911 domicílios instalados no campo, 174.634 são inadequados por não estarem ligados à rede geral de abastecimento de água, ao esgotamento sanitário e ao acesso à coleta de lixo. Já na área urbana, são 829,7 mil domicílios urbanos. Desta quantidade, pelo menos, 6.638 não são cobertos por nenhum dos três serviços públicos.

Para o engenheiro sanitarista Edmilson Fonseca, os dados são motivo de preocupação. Ele explica que a ausência de saneamento básico é o principal responsável pelos diagnósticos das chamadas doenças de veiculação hídrica, que recebem esse nome por possuírem ligação direta com água contaminada.

Esquistossomose, leptospirose, hepatite, meningite e leishmaniose estão entre essas patologias.

Na Paraíba, o diagnóstico dessas cinco doenças aumentou nos últimos dois anos, segundo dados do DataSUS, serviço criado pelo Ministério da Saúde. Os casos de esquistossomose saltaram de 73 em 2010 para 155 no ano seguinte. Já nos seis primeiros meses de 2012, foram 28 notificações.

A leptospirose fez oito vítimas em 2010 e outras 24 no ano seguinte. Já no primeiro semestre de 2012, houve três casos. A hepatite totalizou 141 diagnósticos só entre janeiro e junho deste ano e outros 483 nos 12 meses de 2011. Os diagnósticos de meningite também cresceram no Estado e já chegaram a 138,7%, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2010, a Paraíba teve 62 ocorrências. No ano seguinte, o número subiu para 148. Outros 26 diagnósticos ocorreram entre janeiro e junho de 2012.

Já leishmaniose também atingiu 28 pessoas no Estado, em 2010. Já no ano seguinte, esse número subiu para 46, representando 64,2% de aumento. Só nos seis primeiros meses de 2012, já houve 12 notificações.

Além dessas, existem mais de cem doenças causadas pela ausência de saneamento básico. Para o engenheiro sanitarista Edmilson Fonseca, é a falta de investimentos nessa área que influencia diretamente na saúde das pessoas.

“Estudos do Ministério da Saúde já mostraram que, para cada dólar gasto no saneamento básico, evita-se de gastar quatro dólares no tratamento da saúde. Isso mostra que os serviços de esgotamento, coleta de lixo e fornecimento de água tratada são importantes ferramentas de prevenção às doenças”, observou.

Segundo a gerente executiva de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Talita Tavares, o governo estadual realiza ações permanentes em parceria com os municípios para evitar o avanço das doenças. “Quando se fala em vigilância à saúde, pensamos em capacitações das equipes de saúde e ações preventivas como imunizações da população, campanhas educativas e atenção no controle dos casos. Além disso, temos ações que agilizam o diagnóstico e tratamento, como materiais que distribuímos aos municípios para permitir a realização dos testes rápidos que detectam doenças sexualmente transmissíveis”, disse.

Fonte

 

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