Repressão e esquecimento ainda marcam história de muitos moradores de quilombos na Paraíba.
Isabela Alencar
Ontem, o Brasil comemorou o Dia da Consciência Negra, mas as marcas da
escravidão, que durou anos, ainda permanecem na expressão dos que
viveram essa fase, que permaneceu mesmo depois de 124 anos da abolição.
Na Paraíba, existem 38 quilombos registrados, com 2.693 famílias e
aproximadamente 12 mil pessoas. Nestas comunidades a repressão e o
esquecimento ainda estão vivos e marcam histórias de vidas como a da
ceramista Maria de Lourdes Tenório, de 67 anos, moradora do quilombo
Grilo, no município de Riachão do Bacamarte, no Agreste paraibano.
Durante a infância, Maria de Lourdes sofreu inúmeras adversidades,
incluindo a fome e a perseguição dos “brancos” fazendeiros. Entre uma
lembrança e outra, a ceramista, que apresentou seu trabalho no Museu de
Artes Assis Chateaubriand ontem pela manhã, contou que um dos maiores
absurdos que viveu foi a exploração do trabalho pelos donos da terra. “A
gente trabalhava cinco dias da semana para os donos da terra e dois pra
gente. No final das contas, a gente continuava escravo”, lembrou.
Mas os problemas não acabavam com o abuso do poder e se estendiam até
a casa dos quilombolas, onde um prato de comida era um luxo de poucos.
“A gente colhia muito pouco e tinha que passar com uma refeição por dia.
Muitas vezes a comida era só farinha com rapadura”, disse. A falta de
terras próprias foi sempre o principal empecilho dos negros, que mesmo
em pleno século 21, ainda enfrentam situações de humilhação, como na
comunidade negra Senhor do Bonfim, localizada em Areia, Brejo paraibano.
Um dos moradores do local, José Sebastião Gomes, 46, que revelou o
último conflito entre os quilombolas e os proprietários da terra onde
vivem.
“Em 2003, o dono da terra morreu e a herança teve que ser partilhada.
Um dos proprietários queria expulsar as 25 famílias que moram lá e
durante o conflito, nós fomos humilhados e sofremos até ameaças de morte
e violência física. A gente sente que as leis ainda não chegaram até
nós”, lamentou. Para a socióloga e diretora da Associação de Apoio às
Comunidades Afrodescendente da Paraíba, Francimar Fernandes, em muitas
localidades esquecidas, a escravidão ainda não acabou, seja através da
exploração do ser humano ou ainda da falta de políticas públicas que
sejam aplicadas para o desenvolvimento destas comunidades.
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