11/05/2013 11h24 - Atualizado em
11/05/2013 11h24
Estado é o que registra a maior incidência de raios solares no país.
Placas solares são usadas para aquecer água, mas não geram energia.
Estado é o que registra a maior incidência de raios solares no país.
Placas solares são usadas para aquecer água, mas não geram energia.
Mesmo
com grande potencial para geração de energia solar, consumidores
paraibanos apenas usam placas para aquecer água (Foto: Krystine Carneiro/G1) |
Uma medida da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para
estimular a geração doméstica de energia solar não teve nenhuma adesão
no estado mais ensolarado no Brasil, a Paraíba.
A resolução foi aprovada para incentivar e reduzir barreiras para essa
produção de energia, dando desconto na conta de luz, caso haja produção
excedente. Nenhum consumidor paraibano solicitou ligação ao sistema da
concessionária de energia do estado para aproveitar o abatimento,
segundo a distribuidora Energisa.
Segundo Chigueru Tiba, professor e pesquisador do grupo de Fontes
Alternativas de Energia (FAE) do Departamento de Energia Nuclear da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o noroeste da Paraíba é um
dos melhores lugares do Brasil em relação à incidência dos raios
solares. “Cidades como Sousa e Patos têm uma radiação média anual de 20
MJ/m². Em um mês como dezembro, por exemplo, quando tem muito sol, a
Paraíba tem uma incidência de 24 MJ/m² ou 26 MJ/m²”, comenta. Megajoule
(MJ) é uma unidade de medida de energia, também usada para aferir a
incidência de radiação solar.
Painéis fotovoltaicos são feitos de materiais que convertem radiação solar em eletricidade (Foto: Krystine Carneiro/G1) |
A radiação solar de 20MJ/m² é o equivalente a 5,5kw/h por metro
quadrado, conforme explica o professor Tiba. Se tudo fosse convertido em
energia, um metro quadrado poderia suprir uma casa que consome 150 kw/h
por mês. Porém, um módulo fotovoltaico só consegue converter cerca de
15% dos raios solares. “Com um sistema de eficiência baixa, que converte
apenas 10%, seriam necessários 10 m² para suprir essa casa com consumo
de 150kw/h por mês, que é muito comum no Brasil”, pontua o professor.
Parte do Rio Grande do Norte e de Pernambuco também estão nessa área de
grande incidência de raios solares, mas, proporcionalmente, a Paraíba
tem o maior nível de radiação solar média anual do país, conforme mostra
o Atlas Solarimétrico do Brasil, publicado pela UFPE, sob coordenação
do professor Chigueru Tiba.
Com as novas regras da resolução da Aneel, quem tiver microgeração, com
até 100 KW de potência, ou minigeração, de 100 KW a 1 MW, vai poder
trocar energia com a distribuidora local por meio do Sistema de
Compensação de Energia e ter descontos na conta de luz, caso haja
produção excedente de energia.
Esse benefício será concedido para quem tiver pequenos geradores em sua
unidade consumidora, a exemplo de painéis solares fotovoltáicos ou
pequenas turbinas eólicas. Quando a geração de energia for maior que o
consumo, o excedente vai ser injetado no sistema da distribuidora e o
titular da unidade poderá usar o crédito como desconto nos meses
seguintes, tendo um prazo máximo de 36 meses, inclusive em outras
unidades que também sejam do mesmo titular.
Apesar dos incentivos, nenhum consumidor solicitou a ligação na
Paraíba, segundo informações da concessionária de energia do estado,
Energisa.
O professor Zaqueu Ernesto da Silva, diretor do Centro de Energias
Alternativas e Renováveis da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
explica que a região da Paraíba tem entre cinco horas e meia e seis
horas e meia de horas úteis de luz solar por dia. De acordo com ele, dá
para gerar entre 800 e 1.000w de energia por metro quadrado com essa
incidência solar. “A região do semiárido paraibano é muito indicada para
a geração de energia solar”, diz.
Atlas
Solarimétrico do Brasil mostra que a Paraíba está em uma área com muita radiação solar (Foto: Reprodução/Atlas Solarimétrico do Brasil) |
O empresário francês Nicolas Altbaum tinha uma empresa de instalação de
painéis fotovoltáicos na Europa. Conheceu João Pessoa durante um
período de férias e gostou tanto da cidade que resolveu se mudar para a
capital paraibana, onde já mora há três anos. “Pensei que o mercado e o
crescimento do Brasil poderiam abrir oportunidade no ramo de energia
solar fotovoltaica e eu poderia trazer minha experiência europeia”,
comenta Nicolas.
Ele abriu a empresa Top Solares, mas, em um ano e meio de existência,
nenhum cliente foi conquistado. “Na parte de energia solar térmica, os
aquecedores de água, temos sistemas instalados na maioria dos
condomínios da capital. Isto permite manter viva a empresa, pois,
infelizmente, temos apenas projetos na parte de energia solar
fotovoltaica”, lamenta.
Segundo ele, as maiores dificuldades são os poucos incentivos e
financiamentos e o processo de importação. “Se você não importar um
contêiner completo, você não tem preço competitivo. Por isto, precisamos
de um projeto importante, de financiamento ou de solidez financeira”,
relata Nicolas.
Na França, Nicolas trabalhou durante sete anos no ramo das energias
renováveis. Segundo ele, a empresa era bem-sucedida, pois havia muitos
incentivos por parte dos governos. Por exemplo, um consumidor que
gerasse energia fotovoltaica residencial de até 3 KW de potência tinha
50% de desconto, sob forma de crédito em impostos. Além disso, o preço
do KW vendido pelo consumidor era até cinco vezes maior que do KW
comprado.
O sistema mais em conta, disponível na empresa de Nicolas, requer um
investimento de R$ 13.990. O sistema é um kit de 1,2 KW de potência de
tecnologia alemã e tem uma produção mensal de até 170 KW/h, o suficiente
para uma casa com dois moradores, aproximadamente.
Outro exemplo é um sistema de R$ 889.889, com uma potência total de 100
KW, que produz 12 MW/h por mês. Esse kit é indicado apenas para grandes
comércios ou indústrias.
“Hoje, no Brasil, com a queda do preço dos produtos, a maior recepção
solar direta e a maior produção elétrica, conseguimos a retornar o
investimento na faixa de sete a nove anos”, informa Nicolas. Ainda
segundo ele, a vida útil das instalações pode ultrapassar 30 anos.
Placas
fotovoltaicas estão em fase de instalação na UFPB; departamento terá
prédio com geração de energia solar no teto (Foto: Krystine Carneiro/G1) |
Geração de energia por meio de painéis fotovoltaicos
O professor Zaqueu Ernesto da Silva explicou que os painéis solares
fotovoltaicos são construídos de materiais que têm a propriedade de
converter a radiação, ao ser interceptada, em eletricidade. Normalmente,
os materiais são semicondutores, a exemplo do silício puro
monocristalino.
Além de comprar os painéis, o consumidor que quiser gerar energia em
casa tem que ter um inversor de frequência, uma vez que a energia
elétrica sai dos painéis em corrente contínua e a maioria dos aparelhos
elétricos domésticos funcionam em corrente alternada. Segundo o
professor Zaqueu, esse inversor custa em torno de 40% do valor das
placas. Para não se perder a energia gerada, o professor também indica
que exista um banco de baterias, para armazenar, e um controlador de
carga, para evitar a sobrecarga das baterias.
Não é economicamente viável em áreas urbanas
Apesar de ser uma energia limpa e renovável, a energia solar é mais
cara do que a fornecida pela concessionária e não é economicamente
viável em locais urbanos, conforme explica o professor Zaqueu Ernesto.
Rogério Klüppel acredita que incentivo seria maior se o crédito excedente pudesse ser vendido (Foto: Krystine Carneiro/G1) |
“Cada situação tem que ser analisada para ver a viabilidade econômica.
Mas não há o que discutir do ponto de vista econômico. Só recomendo para
locais como uma fazenda, no interior, onde as casas são distantes umas
da outras e a passagem de fios é cara, ou seja, o custo de transmissão é
alto”, diz. “Do ponto de vista técnico, ela é uma energia alternativa
para onde não tem”.
Além disso, o local onde os painéis serão instalados tem que ter uma
área grande, para captar os raios solares. “Quanto mais área de
captação, mais energia”, comenta Ernesto.
Para o engenheiro mecânico e doutor em energia Rogério Klüppel, a
resolução da Aneel incentivaria mais os consumidores a gerar energia
solar em casa se o crédito excedente pudesse ser vendido. “O consumidor
sempre vai empatar, nunca vai poder lucrar com isso. Não vai valer a
pena”, argumenta.
Nova empresa na Paraíba
Uma fábrica de painéis fotovoltáicos vai se instalar na Paraíba no
segundo semestre de 2013. A Brasil Solair irá produzir, inicialmente,
painéis solares e, para um segundo momento, está nos planos a fabricação
de inversores. Posteriormente, está prevista uma expansão para incluir a
fabricação das células fotovoltaicas que compõem os painéis, segundo
informações da assessoria da empresa.
A fábrica terá a capacidade para produzir cerca de 172.000 painéis por
ano, cerca de 30MW/ano. “Acreditamos que esta indústria será competitiva
no Brasil quando o mercado crescer e tivermos a produção destes
equipamentos em maior escala”, diz a nota da empresa.
Atualmente, a maioria dos painéis fotovoltaicos comercializados no
Brasil são importados. Porém, o empresário Nicolas não acredita que essa
fabricação nacional vai baratear a instalação dos sistemas.
“É verdade que o preço do gerador solar fotovoltáico sofre influência
das taxas de importação, 18% para gerador e 12% para módulos, do frete e
do desembaraço aduaneiro. Mas a concorrência é tão grande que a maioria
dos fabricantes de painéis fotovoltáicos estão perdendo dinheiro e os
preços os últimos anos baixaram bastante. Por isto que, mesmo se os
preços de uma fabricação nacional conseguir a baratear os produtos em
relação do processo de importação, a diferença não deverá ser tão
grande”, explica.
Como se ligar no sistema da concessionária
A Energisa, a concessionária de energia da Paraíba, explicou que quem
quiser ser beneficiado com a resolução tem que procurar a empresa e
apresentar um projeto. Depois disso, é necessário fazer a instalação do
medidor, que calcula o consumo e a geração de energia e mostra se
consumidor vai acumular créditos para usar nos meses seguintes.
Essa instalação é feita por conta do consumidor e o custo varia de
acordo com o tipo de equipamento, com a tarifa de energia, a localização
e o porte da unidade consumidora, entre outros fatores.
Placas solares são usadas para aquecimento de água
Os paraibanos têm aproveitado o alto nível de radiação da região para
usar as placas de aquecimento de água. Neste caso, o sistema pode
aquecer a água e estocá-la, mas não há geração de energia. A professora
de Direito e servidora do Ministério Público Federal Luciane Gomes é uma
das consumidoras que utiliza esse sistema na Paraíba.
Na casa de Luciane, água quente sai do chuveiro quando a torneira do lado esquerdo é acionada (Foto: Krystine Carneiro/G1) |
Filha de agrónomo, ela cresceu colocando o meio-ambiente em primeiro
lugar. Desde 2009, quando comprou uma casa em Intermares, ela instalou
um sistema com três placas de aquecimento de água. “São 600 litros que
ficam superaquecidos o tempo todo. Quando a água vem, vem muito quente,
mas eu tenho duas torneiras, então é só regular com a do lado direito,
que é a fria. Mas eu gosto de banho bem quente, então eu já economizo
com o chuveiro elétrico”, comenta.
Ela gastou em torno de R$ 7 mil para instalar todo o sistema. “Eu nem
sei se esse dinheiro já se pagou, mas não me arrependo”, garante
Luciane. Segundo a professora, a conta de energia na casa, que tem três
suítes, não passa de R$ 130, mesmo com o uso de ar-condicionado
portátil.
Hotéis da Paraíba usam placas para aquecer água e economizar no chuveiro eletrico (Foto: Divulgação/Solar Tech) |
Rogério Klüppel explica que uma placa consegue aquecer 200 litros de
água, o suficiente para uma casa com três a quatro moradores usarem por
um dia. Ele também disse que o retorno financeiro vem em dois ou três
anos.
Ainda de acordo com Klüppel, que é dono de uma empresa de instalação
desses sistemas, a Solar Tech, a maioria dos clientes é da classe A.
Para esse tipo de consumidor, o valor da conta de luz reduz entre 25 e
30%. “Seria um ótimo investimento para o consumidor de baixa renda, que é
quem lucraria mais com a economia. Porém, eles normalmente não têm
capital inicial para o investimento”, explicou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário