quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

País vai mapear cavalos-marinhos

O estudo que será desenvolvido em 2013, financiado pela Fundação Boticário de Proteção à Natureza, terá ainda a missão de servir como base para o desenvolvimento de técnicas de criação em cativeiro.



Um projeto da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vai produzir a partir deste ano o primeiro mapa detalhado das espécies de cavalo-marinho na costa brasileira. A análise genética deve nortear as políticas de proteção desse tipo de peixe, cuja cota de exportação autorizada pelo Ibama caiu em uma década de 5 mil para apenas 250 exemplares anuais por pescador por causa do excesso de exploração.

Pioneira no estudo de cavalos-marinhos no País, a pesquisadora Irecê Rosa afirma que as características do animal não permitem uma exploração intensa sem técnicas adequadas. "No Brasil eles estão espalhados por quase toda a costa, mas não há grandes cardumes. O máximo que vimos foram sete indivíduos juntos", diz a professora, que coordena os trabalhos do Laboratório de Peixes - Ecologia e Conservação (Lapec) da UFPB. "Para fazer uma boa gestão pesqueira é preciso conhecer onde começa e onde termina seu estoque. Com este estudo será possível determinar a diversidade biológica destes animais."

Ela afirma que, desde 1999, quando iniciou as pesquisas no País após concluir um doutorado no Canadá sobre o assunto, tem verificado uma queda na quantidade desses peixes na costa. "Quando comecei, não havia quaisquer estudos feitos com as populações selvagens de cavalos-marinhos ou dados consistentes de extração e comercialização", afirma. "A gente sabe do declínio a partir de indicadores históricos, como o esgotamento em algumas regiões. Mas não é possível saber ao certo quantos animais há no mar."

Redução. Em um trabalho de 2011 sobre a pesca e o comércio de cavalos-marinhos no País, ela cita vários pescadores que afirmam que na década de 1990 conseguiam capturar até 500 animais por dia, com grande variedade de cores. Dez anos depois, mal conseguiam encontrar seis exemplares no mesmo local. "Os ambientes costeiros têm sofrido grande pressão por causa da urbanização e da poluição. No Nordeste, por exemplo, onde a densidade maior é nos manguezais, há degradação dos habitats naturais", afirma Irecê.

Incluídas em 2004 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) na lista de espécies aquáticas ameaçadas pela superexploração, as duas espécies de cavalos-marinhos (Hippocampus reidi e Hippocampus erectus) ganharam uma proposta de plano de gestão em 2011, que ainda não teve resultados práticos.

Mesmo sem dados detalhados sobre a pesca e a comercialização dos animais, o Ibama reduziu drasticamente a cota de exportação. "Em 1999 havia a possibilidade de cada exportador remeter anualmente ao exterior 5 mil exemplares. Como duas espécies eram passíveis de exportação, o número era, de fato, de 10 mil exemplares por ano, por exportador", explica a professora Irecê. "Era um número que não condizia com o que a gente via na água."

Segundo os registros mais recentes da Convenção sobre Acordos Internacionais de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagens (Cites, na sigla em inglês), foram 3.090 exemplares exportados de forma legal no País em 2010.

O estudo que será desenvolvido em 2013, financiado pela Fundação Boticário de Proteção à Natureza, terá ainda a missão de servir como base para o desenvolvimento de técnicas de criação em cativeiro. "Ainda não temos know-how para produzir em grande escala", explica Irecê. "A intenção é criar um protocolo de cultivo de cavalos-marinhos que seja viável dos pontos de vista biológico e econômico, e pautado pela responsabilidade socioambiental."

(Bruno Deiro - O Estado de São Paulo)


Nenhum comentário:

Postar um comentário