O estudo que será desenvolvido em 2013,
financiado pela Fundação Boticário de Proteção à Natureza, terá ainda a
missão de servir como base para o desenvolvimento de técnicas de criação
em cativeiro.
Um projeto da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vai produzir a
partir deste ano o primeiro mapa detalhado das espécies de
cavalo-marinho na costa brasileira. A análise genética deve nortear as
políticas de proteção desse tipo de peixe, cuja cota de exportação
autorizada pelo Ibama caiu em uma década de 5 mil para apenas 250
exemplares anuais por pescador por causa do excesso de exploração.
Pioneira no estudo de cavalos-marinhos no País, a pesquisadora Irecê
Rosa afirma que as características do animal não permitem uma exploração
intensa sem técnicas adequadas. "No Brasil eles estão espalhados por
quase toda a costa, mas não há grandes cardumes. O máximo que vimos
foram sete indivíduos juntos", diz a professora, que coordena os
trabalhos do Laboratório de Peixes - Ecologia e Conservação (Lapec) da
UFPB. "Para fazer uma boa gestão pesqueira é preciso conhecer onde
começa e onde termina seu estoque. Com este estudo será possível
determinar a diversidade biológica destes animais."
Ela afirma que, desde 1999, quando iniciou as pesquisas no País após
concluir um doutorado no Canadá sobre o assunto, tem verificado uma
queda na quantidade desses peixes na costa. "Quando comecei, não havia
quaisquer estudos feitos com as populações selvagens de cavalos-marinhos
ou dados consistentes de extração e comercialização", afirma. "A gente
sabe do declínio a partir de indicadores históricos, como o esgotamento
em algumas regiões. Mas não é possível saber ao certo quantos animais há
no mar."
Redução. Em um trabalho de 2011 sobre a pesca e o
comércio de cavalos-marinhos no País, ela cita vários pescadores que
afirmam que na década de 1990 conseguiam capturar até 500 animais por
dia, com grande variedade de cores. Dez anos depois, mal conseguiam
encontrar seis exemplares no mesmo local. "Os ambientes costeiros têm
sofrido grande pressão por causa da urbanização e da poluição. No
Nordeste, por exemplo, onde a densidade maior é nos manguezais, há
degradação dos habitats naturais", afirma Irecê.
Incluídas em 2004 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) na lista de
espécies aquáticas ameaçadas pela superexploração, as duas espécies de
cavalos-marinhos (Hippocampus reidi e Hippocampus erectus) ganharam uma
proposta de plano de gestão em 2011, que ainda não teve resultados
práticos.
Mesmo sem dados detalhados sobre a pesca e a comercialização dos
animais, o Ibama reduziu drasticamente a cota de exportação. "Em 1999
havia a possibilidade de cada exportador remeter anualmente ao exterior 5
mil exemplares. Como duas espécies eram passíveis de exportação, o
número era, de fato, de 10 mil exemplares por ano, por exportador",
explica a professora Irecê. "Era um número que não condizia com o que a
gente via na água."
Segundo os registros mais recentes da Convenção sobre Acordos
Internacionais de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagens (Cites,
na sigla em inglês), foram 3.090 exemplares exportados de forma legal no
País em 2010.
O estudo que será desenvolvido em 2013, financiado pela Fundação
Boticário de Proteção à Natureza, terá ainda a missão de servir como
base para o desenvolvimento de técnicas de criação em cativeiro. "Ainda
não temos know-how para produzir em grande escala", explica Irecê. "A
intenção é criar um protocolo de cultivo de cavalos-marinhos que seja
viável dos pontos de vista biológico e econômico, e pautado pela
responsabilidade socioambiental."
(Bruno Deiro - O Estado de São Paulo)
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