sábado, 31 de dezembro de 2011

Transposição é obra polêmica?

30 DEZ 2011 - 11H10

Quando a televisão mostra grupos marginais de São Paulo agredindo nordestinos e destilando um preconceito asqueroso, a gente tem a impressão de que se trata de um ou outro episódio isolado.
 
Não é verdade. O preconceito contra o Nordeste é um fato muito mais corriqueiro na sociedade paulista do que se imagina. A imprensa sulista - assim chamada, embora seja do sudeste - alimenta este sentimento de asco aos nordestinos.
 
Querem um exemplo?

Uma das manchetes de hoje do Estadão é reveladora deste descaso que as elites brasileiras dispensam ao Nordeste. Diz o jornal: “Mais 1,2 bi para uma obra polêmica”.
 
A obra “polêmica” a que se refere a notícia é a transposição de águas do rio São Francisco para os Estados do Ceará, Pernambuco e Paraíba.
 

Diz mais a notícia:

“Depois de R$ 2,8 bilhões gastos, a transposição registra atualmente obras paralisadas, em ritmo lento e até trechos onde os canais terão de ser refeitos, como é o caso de 214 metros em que as placas de concreto se soltaram por entupimento num bueiro de drenagem”.

Polêmica? Trazer água de um rio brasileiro para regiões semi-áridas do Nordeste é polêmico? Só na cabeça dos paulistas que, se pudessem, desencadeariam uma campanha separatista.

Esse comportamento da imprensa de São Paulo, que não se dedica a procurar entender os problemas nordestinos é, em tudo, semelhante ao que fazem nas ruas os grupos marginais e bandoleiros que agridem negros, nordestinos e gays.

Aliás, separar-se do Brasil talvez trouxesse boas vantagens para o Nordeste. Culturalmente, sairíamos ganhando. Na economia, não seria o desastre que tanto se alardeia: exportaríamos petróleo, rapadura, gente trabalhadora e muito mais.

Evidentemente que não sou um separatista. Gosto do Brasil, inclusive de São Paulo, do jeito que as coisas estão. Mas, daí a aguentar grosserias é coisa muito diferente.

A transposição das águas do São Francisco não é uma obra que enseje polêmicas. É uma aspiração secular dos nordestinos, que têm direito aos benefícios hídricos do maior rio genuinamente brasileiro.

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