domingo, 29 de janeiro de 2012

Cenários de cinema e ecoturismo são os atrativos de Cabaceiras, PB

27/01/2012 10h34 - Atualizado em 27/01/2012 10h34

Após 30 produções, cidade recebeu o título de 'Roliúde Nordestina'.
Monumentos naturais e cultura do bode movimentam economia local.

Karoline Zilah  
Do G1 PB
 
Lajedo de Pai Mateus é o principal atrativo da região (Foto: Maurício Melo/G1)
Lajedo de Pai Mateus é o principal atrativo da região
(Foto: Maurício Melo/G1)

Apesar de ter apenas 5 mil habitantes, a cidade de Cabaceiras, na Paraíba, já entrou na rota dos amantes do ecoturismo no Brasil. A cidade ganhou popularidade depois de ser 'descoberta' por cineastas interessados nos cenários naturais típicos do semiárido e na boa luminosidade, que permitia mais tempo de filmagem por dia. Uma das produções mais famosas é a minissérie O Auto da Compadecida, gravada na região em 1998.

Desde então, Cabaceiras transformou-se em 'set' para, pelo menos, 30 filmes entre documentários e ficções. A vocação para o cinema e o clima seco semelhante à Hollywood original norteamericana lhe renderam o título de 'Roliúde Nordestina'. No currículo, além da adaptação das aventuras de Chicó e João Grilo criadas pelo escritor paraibano Ariano Suassuna, estão os filmes 'Cinema, Aspirinas e Urubus', 'Romance' e a microssérie 'A Pedra do Reino'. As gravações mais recentes foram feitas para a novela 'Aquele Beijo'.

O município fica localizado a 199 km da capital João Pessoa e o acesso se dá por estradas estreitas, incluindo trechos de terra. Para quem viaja de ônibus, é possível sair de Campina Grande, que fica a 66 km de distância. A cidade está localizada na microrregião do Cariri paraibano, ornamentada por uma vegetação rasteira que se alterna entre galhos secos e um verde discreto. Apesar de registrar o menor índice pluviométrico do país, as plantas locais conseguem alcançar lençóis freáticos e deles obter água.

As boas-vindas são dadas pelo letreiro 'Roliúde Nordestina', instalado em uma serra na entrada da cidade. Depois da parada obrigatória para foto, o visitante encontra o espaço que sedia anualmente a Festa do Bode Rei, criada em 1998 para valorizar a caprinovinocultura. De acordo com o Sebrae, o evento dura quatro dias e atrai cerca de 50 mil pessoas.

O bode, que antes era visto como alimento para famílias pobres, hoje é uma das principais atividades econômicas do Cariri. Sua carne ganhou espaço em mercados, virou recheio para almôndegas, pizzas, linguiças, estrogonofe (ou estrogobode), tapiocas (bodioca) e até panquecas e chega a ser estrela em festivais de alta gastronomia.

Cidade cinematográfica
A poucos metros de distância do local que sedia a Festa do Bode Rei, o turista já encontra o Centro da cidade, cujas casas antigas e até a cadeia pública foram cenários de filmes. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, abrigou algumas das últimas cenas de 'O Auto da Compadecida', onde os personagens são submetidos ao 'juízo final'. A infraestrutura das ruas teve que ser adaptada para o enredo, a exemplo de postes que foram retirados. Entre os moradores, muitos já acumulam um extenso currículo como figurantes.

Na mesma manhã, é possível visitar também o Memorial Cinematográfico, onde são expostas fotografias, roteiros e material usado nas gravações, e o Museu Histórico dos Cariris, que abriga antiguidades e peças artesanais produzidas na região. O artesanato local também é atração na Casa de Zé de Cila, apelido de José Nunes, figura da cidade que adora um bate-papo sobre recordações de acontecimentos históricos e que participou das grandes produções que passaram pelo local.

Como o bode é rei na cidade, a cabrita é a rainha. É dela que vem uma bebida típica que vale conferir antes do turista se despedir do Centro. É o Xixi de Cabrita, um licor suave que mistura leite de cabra, aguardente e baunilha. A receita completa, porém, é segredo.

Ribeira concentra produção artesanal à base de couro (Foto: Karoline Zilah/G1)
Ribeira concentra produção artesanal à base
de couro (Foto: Karoline Zilah/G1)
Distrito de Ribeira
Seguindo 14km por uma estrada de terra, chegamos ao distrito de Ribeira de Cabaceiras, comunidade rural que concentra a produção do artesanato em couro de cerca de 30 oficinas. Juntos, 72 'sócios' mantêm desde 1998 a Cooperativa dos Curtidores e Artesãos em Couro de Ribeira de Cabaceiras, que beneficia cerca de 200 pessoas diretamente. Batizada com o nome fantasia de Arteza, a cooperativa produz sandálias, chapéus, carteiras, bolsas, cintos e outros acessórios, tudo de couro de boi e bode.

Segundo o diretor presidente José Carlos de Castro, são mais de 100 anos de tradição dos curtumes com técnicas manuais de processamento do couro repassadas pais para filhos. Com a ajuda de consultorias sobre moda e gerenciamento, o que era rústico virou negócio e a cooperativa recebeu investimentos no maquinário para aprimorar o acabamento e aumentar a quantidade.

Hoje a Arteza distribui seus itens para venda em João Pessoa, Natal, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Também participou de feiras internacionais de artesanato, recebendo encomendas de Espanha, Portugal e Alemanha. Em sua sede no distrito de Ribeira é possível acompanhar o passo a passo do processo de criação das peças e comprar artigos para usar ou presentear.

Disposição dos blocos de pedra da Saca de Lã desafiam turista a acreditar que não houve interferência humana (Foto: Karoline Zilah/G1)
Disposição das pedras da Saca de Lã desafia
turista a acreditar que não houve interferência
humana (Foto: Karoline Zilah/G1)
Saca de Lã
Saindo do distrito de Ribeira, o visitante segue de carro por mais 10km de estrada de terra para chegar até a antiga fazenda Tapera, que hoje abriga o Hotel Fazenda Pai Mateus. Adentrando a propriedade chega-se aos dois bens ecológicos mais preciosos de Cabaceiras: a Saca de Lã e o Lajedo de Pai Mateus. Ambos também serviram de locações para filmes, mas, além de atrair amantes da sétima arte para conhecer os cenários naturais, estão se tornando populares pelos passeios com trilhas e esportivos, como trekking, bike e rapel.

A primeira parada é o monumento natural Saca de Lã, que recebeu este nome por lembrar pacotes de algodão empilheirados de Campina Grande, na época em que a cidade era uma das maiores exportadoras do mundo. Devido ao sol forte, o guia Ribamar Farias recomenda que o passeio seja feito pela manhã, entre as 7h e as 10h. O visitante segue por um trilha de arbustos típicos da caatinga até se surpreender com o que vê pela frente: um monumento de pedras empilhadas.

Custa a acreditar que a obra não foi feita pelo homem, mas sim pela natureza. Segundo o guia, estudiosos dizem que um processo demorado – de milhares de anos – fez com que uma única pedra rachasse em blocos em forma de paralelepípedos. Além disso, a erosão molda as pontas, o que deixou a estrutura em forma de pirâmide. Árvores também crescem nas brechas e suas raízes ajudam a separar os blocos. “Diz a lenda que os egípcios se inspiraram na Saca de Lã para criar suas pirâmides”, brinca Ribamar.

Com a orientação de um guia de turismo capacitado, é possível escalar a Saca de Lã e adentrar suas rachaduras. As pedras são ocas por dentro, o que permite o aventureiro a chegar ao topo do monumento.

Lajedo de Pai Mateus
A formação rochosa de 1,5 km² é composta por cerca de 100 blocos de pedras arredondadas e foi eleita a primeira entre as Sete Maravilhas da Paraíba, em votação popular promovida pela Assembleia Legislativa em 2010.

Blocos do lajedo têm formatos curiosos, como a Pedra do Capacete (Foto: Maurício Melo/G1 PB)
Blocos do lajedo têm formatos curiosos, como a Pedra do Capacete
(Foto: Maurício Melo/G1 PB)
O local recebeu este nome devido à lenda do curandeiro Pai Mateus, que teria morado em uma das pedras no século XVIII e era considerado pelos moradores como uma personalidade sagrada, por usar ervas medicinais em época de escassez de profissionais na região. Além da pedra em forma de 'cumbuca' de sopa invertida, onde ele teria morado, a Pedra do Capacete é uma das mais interessantes devido ao seu formato.

O melhor horário para visitação é entre as 15h e as 18h, durante o por do sol, que ilumina as rochas com um aspecto dourado – fenômeno responsável por atrair fotógrafos de várias partes.

Italiano Bruno De Nicola reconheceu cenários de novela pela cidade (Foto: Karoline Zilah/G1)
Italiano Bruno De Nicola reconheceu cenários
de novela pela cidade (Foto: Karoline Zilah/G1)
O consultor em Comunicação italiano Bruno De Nicola mora no Brasil há sete anos, mas visita pela primeira vez a Paraíba. Depois de seis dias no estado, ele revela que sempre teve o desejo de conhecer a região e, apesar da beleza das praias, ficou impressionado com o processo de erosão e formatos das pedras da Saca de Lã e do Lajedo.

"Reconheci alguns cenários do começo da novela. Também gostamos muito também da receptividade dos moradores locais", comenta.

Uma das opções de passeio é a trilha por sítios arqueológicos. Nos pequenos lagos dos arredores, há fósseis de animais históricos e algumas pedras contêm inscrições rupestres ainda visíveis, que teriam sido deixadas por índios cariris há cerca de 12 mil anos. Acredita-se que o local era cultuado como sagrado e utilizado como centro cerimonial, por isso muitos visitantes consideram o espaço místico e perfeito para contemplar o por do sol e revigorar as energias.

Cerca de 100 blocos milenares de granito compõem paisagem do lajedo (Foto: Karoline Zilah/G1)
Cerca de 100 blocos milenares de granito compõem paisagem do lajedo
(Foto: Karoline Zilah/G1)
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