domingo, 15 de janeiro de 2012

Obra da transposição do São Francisco está atrasada e 6 lotes parados

Domingo, 15/01/2012

DANIEL MOTTA

Dos 16 lotes que integram as obras da transposição do Rio São Francisco nos dois eixos, 10 estão em andamento e seis foram interrompidos. Em alguns, as obras estão paradas há quase um ano, por conta da decisão do Ministério da Integração Nacional (MIN) de não aceitar reajustes nos contratos com índices superiores a 25%, como previsto em lei. Com essa decisão, obras como a do lote sete, localizada em São José de Piranhas, no Sertão da Paraíba, só serão reiniciadas em 2013. As obras estão previstas para terminarem em 2015.
O MIN determinou a revisão dos contratos vigentes, levantamentos de campo para rescisões com as empresas e a preparação de novas licitações. As obras da transposição do Rio São Francisco nos eixos Leste e Norte estão 71% e 46% concluídas, respectivamente, e o ministério garante que as atividades em alguns dos lotes que estão parados deverão ser retomadas a partir do final deste mês.
 
No Sertão paraibano, um lote está em funcionamento e outro paralisado. O lote 14, onde estão sendo escavados dois túneis, sendo um de 15 quilômetros de extensão (Cuncas I) e outro de quatro quilômetros (Cuncas II). No primeiro, já foram escavados mais de dois mil metros e no outro já são mais de 1,5 mil metros executados. Já no lote sete, onde estava sendo construído um canal de aproximação, e serão construídas duas barragens, as obras foram interrompidas porque o contrato com as empreiteiras foi rescindido. Os trechos da obra que faltam ser feitos deverão ser licitados a partir do mês de janeiro do próximo ano.

Com um orçamento de mais de R$ 170 milhões, o lote sete estava sendo executado por um consórcio formado pelo grupo Carioca, que já tinha executado 18% das obras. As empreiteiras eram responsáveis pela construção de um canal de aproximadamente 6,5 quilômetros e duas barragens, a de Boa Vista e a de Caiçaras. O canal começou a ser escavado, mas foi interrompido por volta do mês de abril do ano passado. No projeto, o canal é o responsável por integrar os túneis às barragens, que desaguarão no rio Piranhas, com destino ao reservatório Engenheiro Ávidos. Na obra, trabalhavam mais de 700 pessoas.

Maior barragem será na PB

A maior barragem do projeto de integração das bacias hidrográficas do Rio São Francisco será construída no lote sete, na região de São José de Piranhas, no Sertão do Estado. A barragem de Boa Vista terá uma capacidade de 200 milhões de metros cúbicos de água e será o primeiro manancial no Estado a receber as águas do “velho Chico”. O local onde será construído o manancial já foi desapropriado, mas as obras não tiveram inicio, porque faziam parte do lote que teve as atividades interrompidas. Próximo a barragem Boa Vista, também será construída uma barragem com capacidade para seis milhões de metros cúbicos.

Delas, as águas do Rio São Francisco correrão pelo Rio Piranhas com destino ao reservatório de Engenheiros Ávidos. “Ela é maior barragem de todo o projeto da transposição e será iniciada assim que a licitação das empresas do lote sejam resolvidas. A área já foi desapropriada e a barragem de Boa Vista terá um papel muito importante para a integração do Rio São Francisco”, explicou o engenheiro Fernando Carlos.

Transposição aquecia economia local
DANIEL MOTTA

Enquanto as empresas estavam na região, a economia das cidades foi aquecida, empregos foram gerados e impostos foram pagos às prefeituras, sobretudo nos municípios de São José de Piranhas e Cajazeiras. De acordo com o assessor administrativo de São José de Piranhas, Clarindo Geraldo Nunes, cidade mais beneficiada com a instalação das empresas na região, em pouco mais de um ano, foi possível arrecadar mais de R$ 600 mil em Impostos Sobre Serviço (ISS).

“Desde 2010 que impostos começaram a ser pagos e as quantias variavam de acordo com o mês. Tivemos meses de receber até R$ 80 mil, mas houve meses de ser bem menos. Ao todo, foi recolhido um valor significativo, que foi aplicado em serviços, como infraestrutura dos bairros da cidade e calçamento das ruas. Hoje, com a saída desse grupo que operava no lote sete, nossa arrecadação caiu muito e tem mês que a arrecadação é de até R$ 1 mil”, contou.

A paralisação do lote também contribuiu para a redução da movimentação da economia local, já que as empresas faziam compras no comércio, e da redução do número de imóveis alugados na cidade. “Logo no começo, o comércio cresceu mais de 50%. O meu restaurante e a minha pousada viviam lotados e, graças a isso, eu aproveitei para expandir os negócios. Tinha dia de ter tanta gente que nós não conseguíamos dar conta da demanda e, por isso, outros comércios foram surgindo, além de hotéis e lojas. Mas com a saída das empresas do lote sete, caiu muito o movimento e, se não voltarem logo, já prevemos um grande prejuízo por conta dos investimos que fizemos”, contou o comerciante José Vieira.

Trabalhadores querem voltar

Os trabalhadores que atuavam no lote sete e que ficaram desempregados, ainda têm esperanças de voltar a fazer parte das obras da integração. “Foi uma surpresa para mim, quando fui informado de que ia perder o emprego. Minha carteira era assinada e eu estava muito contente, pelo meu primeiro emprego mas, infelizmente, a empresa teve que ir embora. Eu espero que o lote seja retomado e que mais empregos sejam gerados, porque muita gente ficou desempregada de repente”, disse Daniel de Aquino, de 27 anos.

Em contrapartida, o lote 14, localizado na mesma região, continua em atividade. Com um orçamento de R$ 203 milhões, o lote 14 conta com 470 trabalhadores escavando os desemboques dos dois túneis, que se localizam na região serrana do município de São José de Piranhas. Já o emboque do túnel que fica na cidade de Maurití, no Estado do Ceará, está paralisado por conta de um desmoronamento.

A região onde o emboque estava sendo escavado é formada por solo argiloso e frouxo, que não sustentou a obra.  O setor de projetos estratégicos do MIN está buscando soluções para o trecho, que deverá ser retomado ainda no próximo semestre.  

Além do emboque e do desemboque, as obras no túnel Cuncas I, considerado o maior da América Latina, também conta com a escavação de uma janela de acesso, localizada no meio da serra e que mede mais de dois quilômetros de extensão. “A obra no túnel Cuncas I nunca está dentro do prazo de execução. Por mês, temos uma meta de escavar até 200 metros. Os trabalhadores atuam em dois turnos, em atividades que envolvem todo o processo da escavação. Por dia são escavados de 5 a 10 metros”, explicou o coordenador de fiscalização do trecho, Fernando Carlos de Albuquerque.

Integração emprega 3.800

As obras da integração da bacia do São Francisco empregam mais de 3.800 pessoas, e a expectativa do Ministério da Integração Nacional é de que até o próximo trimestre deste ano, a obra esteja empregando cerca de seis mil funcionários diretos. Os novos empregos serão criados em função da conclusão dos ajustes de contratos com as empresas construtoras.

Trabalhadores de diferentes regiões paraibanas e de outros estados conseguiram uma oportunidade de trabalho nas atividades do projeto. O brejeiro Adalberto José da Silva, 30, deixou a cidade natal de Dona Inês, para arriscar uma vaga no túnel do Cuncas I e consegui assinar a carteira com um salário mensal de R$ 2 mil. “Eu estava no Brejo desempregado e graças a Deus, vim até aqui no sertão, arriscando uma vaguinha na maior obra do País e consegui. Muitos colegas meus que estavam desempregados também conseguiram um emprego aqui e todos os dias vêm mais pessoas em busca de trabalho”, disse.

Assim como paraibanos, também atuam nas obras, trabalhadores do Rio Grande do Norte, Ceará, Sergipe, Alagoas, Bahia e Piauí. “Eu era mototáxi em Currais Novos (RN) e vim em busca do emprego e fiquei com uma vaga. Eu lucrava menos de R$ 800 por mês como mototáxi e aqui eu recebo um salário fixo de R$ 2 mil”, disse Jarian da Silva, de 30 anos.
 

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