Mais de cinco milhões de brasileiros vivem em casas irregulares atualmente, segundo IBGE.
Publicado em 10/06/2012 às 08h00
Publicado em 10/06/2012 às 08h00
Nathielle Ferreira
Com os pés sujos de
areia e cansado pelo transporte pesado de material reciclável coletado
do lixo, Sandoval Márcio da Silva olha, desolado, para as condições
precárias da casa onde mora.
O casebre feito de paus e barro, com pouco mais de cinco metros
quadrados, é a única propriedade que ele conseguiu adquirir ao longo de
48 anos de vida.
Castigada pelo sol e chuva, a moradia já está inclinada, marcada por
fissuras, buracos e parece que vai desabar a qualquer momento. “Trabalho
com artesanato. O que ganho mal dá para comer. Não tenho condições de
comprar uma casa melhor”, lamenta Sandoval, com tom preocupado.
Residente da comunidade Trapiche, criada ao lado da Estação
Ferroviária em João Pessoa, Sandoval divide com outras 50 famílias o
mesmo drama. Todos vivem em casas de taipa, que não oferecem nenhuma
segurança física e ameaçam cair a cada período chuvoso. A comunidade já
está cadastrada em programas habitacionais da prefeitura, mas perde dia
após dia a esperança de sair do local.
“Minha casa era de taipa e caiu por causa da chuva. Perdi tudo o que
tinha. Saí de lá e aluguei outra casa aqui mesmo, também de taipa. Tenho
medo desta também vir abaixo porque está cheia de rachadura. É tanto
sofrimento que nem acredito mais que um dia vou sair daqui”, desabafou
Sandra Silva de Araújo.
Moradora há 12 anos na comunidade, Sandra conta que o risco do
desabamento é o maior, mas não é o único problema das casas humildes.
Sem revestimentos, as precárias moradias também escondem insetos que
ameaçam a saúde. Ratos, baratas, mosquitos e até aranhas e escorpiões
são inimigos presentes.
Outro perigo vem do piso. O chão de terra batida, sem cimento, é cheio de buracos e põem abaixo quem não ficar atento.
Deficiente física, Sandra já caiu várias vezes dentro de casa. “Eu
tenho apenas uma perna e uso muleta. Preciso andar, com cuidado, me
segurando nas coisas”, revela.
As dificuldades estão presentes também nos banheiros. Na comunidade
Trapiche, há apenas um pequeno cômodo, construído pelos próprios
moradores, que é usado pelas 40 famílias do local. O ambiente, também
feito em taipa, não tem nenhuma estrutura mínima de higiene sanitária. O
esgoto é despejado ao ar livre e afeta diretamente as crianças.
“Os meninos daqui vivem doentes, com dengue, febre, verme.
Não tem como evitar. Além dos esgotos, há muito lixo por aqui”, reclama a moradora Maria José Pinheiro da Silva.
Segundo o Censo Demográfico feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), mais de cinco milhões de brasileiros
vivem em casas irregulares atualmente.
São precisamente 5.110.196 unidades no país. Destas, 925.160 são de
taipa. As demais são feitas de madeira e palha. Na Paraíba, são 30.723
casas nessa situação. Entre elas, 28.923 são moradias de taipa, outras
1.547 são de madeira e 253 lares feitos de palha.
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