domingo, 18 de março de 2012

João Pessoa tem o triplo de áreas verdes recomendadas pela ONU

Domingo, 18/03/2012


 
Aline Guedes

Clima mais ameno, ar mais puro, melhor infiltração da água das chuvas. Vários são os benefícios que a Mata do Buraquinho traz para a qualidade de vida dos pessoenses. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a Paraíba possui apenas 16,11% da Mata Atlântica original remanescente, no Estado. Apesar da queda drástica de área verde ao longo dos anos, a reserva ainda é considerada a maior em área urbana do País, um pulmão que oxigena o desmatamento fruto da verticalização de construções na Capital. Conservar o que restou do bioma é um desafios de toda sociedade e que será discutido na Conferência Rio+20, que acontece entre os dias 20 a 22 de junho, na capital carioca.

A importância desse “pulmão verde” é tamanha que João Pessoa possui 40m² de áreas verdes por habitante, quase o triplo da média ideal recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 15m². O dado positivo é resultado da grande concentração de Mata Atlântica em espaços isolados, como o Parque Arruda Câmara, os espaços no entorno da UFPB e a própria Mata do Buraquinho. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), os bairros situados próximos à reserva possuem até cinco graus de temperatura a menos, comparado ao resto da cidade. “Além do refrigério natural, a vegetação da Mata do Buraquinho faz com que as águas das chuvas sejam mais absorvidas, evitando as enchentes e ainda purifica do ar”, afirmou a secretária de Meio Ambiente de João Pessoa, Lígia Tavares.

Mata tem 10 trilhas abertas ao público
Túneis de bambuzal fecham o céu e espécies exóticas de plantas colorem o caminho. Esse é o cenário encantador do principal atrativo do Jardim Botânico Benjamim Maranhão: as trilhas, onde são desenvolvidos percursos interpretativos que abordam temas sobre a Mata do Buraquinho, a Mata Atlântica e o Rio Jaguaribe. Nelas, o visitante entra em contato com o ar puro e a mata virgem, vislumbrando um universo de natureza intacta que impressiona a população acostumada com o asfalto e concreto da vida urbana. “Recebemos muitos turistas aqui e todos se surpreendem com a riqueza da fauna e flora. Muitos revelam que não acreditavam que ainda existissem lugares como aqui”, conta a guia e educadora ambiental do JBBM, Janicleide dos Santos.
São 12 trilhas, mas só 10 são abertas ao público. “Essas outras duas são mais utilizadas em pesquisas. Restringimos o acesso também porque o solo é mais encharcado e possuem difícil acesso”, explicou o biólogo Pedro Gadelha. A maior trilha possui mais de 1,5 km, mas é possível juntar um percurso a outros. “Existem trilhas mais fáceis, onde crianças, idosos e até deficientes físicos podem participar, algumas moderadas e outras difíceis, onde é necessário um bom condicionamento físico para atravessar o percurso íngreme e alguns obstáculos”, disse a diretora Suênia Oliveira.

Essa central de purificação possui 515 hectares. A grandeza do conglomerado verde pode ser vista em qualquer registro aéreo de João Pessoa e está no entorno de seis bairros (Jaguaribe, Bancários, Torre, Rangel, Água Fria e Castelo Branco) e duas comunidades (São Geraldo e São Rafael) da Capital. O rio Jaguaribe também atravessa a reserva. Dentro dela, está inserido o Jardim Botânico Benjamim Maranhão (JBBM), o maior do Nordeste, com 343 hectares. Existem quatro JB no Nordeste: em João Pessoa, em Recife, em Salvador e no Piauí.

“No Brasil, são 30 Jardins Botânicos registrados, mas também existem alguns parques que não possuem registro no Ministério do Meio Ambiente. O diferencial de João Pessoa é que é uma reserva totalmente natural. A maioria dos Jardins Botânicos são construídos em estufa”, explicou a diretora do JBBM, Suênia Oliveira.

João Pessoa não possui um aparelho para medir a poluição do ar, mas os ambientalistas acreditam que a filtragem feita pela mata é considerável. A constatação é baseada no fenômeno da fotossíntese. As árvores retiram o gás carbônico (CO2) da atmosfera, o absorvem e liberam oxigênio (O2) no ar,  armazenando o carbono.

Mais de 500 espécies catalogadas
Já foram catalogadas mais de 500 espécies de plantas no JBBM, desde espécies mais comuns até espécies mais difíceis de ser encontradas. Alguns exemplos são: macaíba, ipê, jatobá, cajá, sucupira, gameleira, copiúba. Também são encontradas muitas espécies exóticas na Mata do Buraquinho, como mangueira, dendê, algumas ornamentais. “Uma espécie que temos aqui e está em risco de extinção é o jacarandá branco. Algumas raras são o ticum e peroba”, conta o biólogo Pedro Gadelha.

Os animais não são tão fáceis de ver. Segundo o biólogo, eles se assustam com a presença do homem. Mas em silêncio e com um pouco de sorte, é possível flagrar um teju, um macaco ou uma preguiça percorrendo a mata. Muitos estudos sobre a fauna ainda estão sendo realizados por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas já foram registradas ocorrências de preguiça, sagui, duas espécies de jacaré (do papo amarelo e o coroa), além de várias espécies de cobras, insetos, aves, cutia e raposa.

A sede do Batalhão da Polícia Ambiental funciona dentro do Jardim Botânico e conta com mais de 100 agentes. Rondas periódicas são feitas no local para garantir a segurança, porém, segundo a diretoria do JBBM, nunca houve nenhuma ocorrência dentro do Jardim.

A visitação no Jardim acontece de terça a sábado, das 8h até as 17h. São disponibilizados dois horários de trilha (9h e 14h). Também são oferecidas oficinas de reaproveitamento de materiais e jardinagem, porém só com agendamento prévio, através do telefone 3218-7880. Todas as atividades são gratuitas. Para grupos acima de 10 pessoas (escolas, universidades, empresas) é necessário marcar com a direção do Jardim. É obrigatório o uso de calças compridas e sapato fechado para fazer as trilhas.

Turismo controlado é estratégia para preservar
O turismo controlado é a estratégia do Jardim Botânico Benjamim Maranhão para preservar as trilhas e a biodiversidade da Mata do Buraquinho, em João Pessoa. Apenas 200 pessoas visitam o parque semanalmente e, segundo a direção do Jardim, o número é considerado ideal para não causar impacto no bioma.

“Não é nosso objetivo receber um grande público, como o da Bica, por exemplo. Quanto mais contida a presença do homem, maior a conservação do bioma”, explica a diretora do JBBM, Suênia Oliveira. O pisoteio constante causa alargamento nas trilhas, perda de vegetação, além do impacto auditivo e olfativo que a presença do homem causa nos animais. “Eles se assustam quando estamos por perto. Afinal de contas, estamos entrando no habitat deles”, afirma. A maior parte dos visitantes vem ao Jardim através de grupos de escolas e universidades. Durante as férias, o fluxo aumenta bastante, principalmente aos sábados.

Por esse motivo, as trilhas do JBBM não podem ser feitas de bicicleta ou qualquer outro veículo, mas apenas a pé e com o acompanhamento de um guia autorizado. O parque é uma área de preservação permanente desde 1989, através de um decreto do Ibama. Apesar da redução de Mata Atlântica na Paraíba, as áreas de invasão em Jaguaribe não são consideradas perdas para a direção do JBBM. “Quando o parque foi criado, esses locais já estavam invadidos, então não podemos dizer que o espaço foi reduzido. Pelo contrário, com a retirada da comunidade Paulo Afonso, em Jaguaribe, a nossa área foi ampliada”, disse Suênia.

No Rio+20, representantes do JBBM estarão presentes na comissão paraibana da Caatinga. “A rede brasileira de JB’s vai ter uma representação nacional. Por isso, vamos apoiar e dar subsídio para outros biomas na Conferência”.

Em relação ao título de cidade mais verde do país que João Pessoa chegou a ganhar na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), o biólogo afirma que tudo foi uma questão de marketing. Foi levado em consideração o número de árvores por habitante. Mas se um dia João Pessoa foi mesmo a capital mais verde do Brasil, atualmente, muito dessa natureza se perdeu com o desenvolvimento imobiliário. “Bancários e Altiplano são dois exemplos. O crescimento desordenado invadiu áreas verdes para a construção de imóveis e hoje é quase impossível ver árvores nesses locais”.

“Esse lugar é uma maravilha”
Em uma das rotas, a visão exuberante do enlace natural de uma gameleira com um dendezeiro batiza um dos percursos mais procurados: a trilha do abraço. Já na trilha da preguiça, como o próprio nome sugere, o visitante poderá ver de perto o mais ilustre habitante da fauna local, o bicho preguiça.

É em busca de todas essas surpresas da natureza que os turistas vêm até o Jardim Botânico, como a artista plástica Naedja Maciel que trouxe a amiga Karen Riggs dos Estados Unidos para fazer uma trilha. “Esse lugar é uma maravilha. Para nós duas, que amamos jardinagem, ver toda essa diversidade de plantas foi um deleite. Fazemos caminhada em parques lá na Califórnia, mas nada comparado à imensidão daqui”, contou Naedja.

A estudante Veruska Fernandes, mesmo morando em João Pessoa, conheceu o parque pela primeira vez na última semana. “Queria fazer uma coisa diferente e decidi vir aqui. Adorei percorrer a trilha e com certeza pretendo voltar”, disse.
 


 

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