Por Joaquim Maia Neto
Ser
ambientalista no Brasil não é fácil. É necessário um esforço enorme
para buscar esperança, motivação e expectativa de avanços, evitando
dessa forma o esmorecimento. A fantástica biodiversidade do país é sem
dúvida uma grande incentivadora de milhares de pessoas que enveredam de
diversas maneiras pelo caminho da proteção da natureza. Para quem já tem
uma predisposição pela causa, a contemplação da exuberância da fauna,
flora, paisagens naturais e processos ecológicos que brindam nosso país
com uma riqueza única, é algo que incentiva fazer alguma coisa, dedicar
algum tempo para conservar as diversas formas de vida e o ambiente que
as sustenta. Outra motivação comum para a luta ambiental é a indignação
despertada em nós quando vemos a degradação acelerada motivada pelo
poder do dinheiro.
Foi
justamente a riqueza da nossa biodiversidade que me levou, logo cedo, a
ser um apaixonado pela natureza. Percebendo minha vocação minha mãe já
me presenteava, quando ainda criança, com livros que descreviam espécies
animais e vegetais de todo o mundo. Eu achava muito interessante saber
que ao meu redor era possível observar uma diversidade maior do que
aquela retratada nas obras originalmente publicadas no velho mundo ou na
América do Norte. Uma breve incursão numa mata, em companhia do meu
pai, me permitia observar mais espécies de aves do que as que eu
encontrava nos capítulos sobre os ambientes da Europa, por exemplo.
Sendo
um garoto caipira, do interior, era natural frequentar os ambientes
aquáticos continentais. As pessoas se divertiam nadando ou pescando nos
rios, córregos e represas. Logo a ictiofauna me despertaria grande
interesse. Numa época na qual as crianças viviam “soltas”, desconectadas
da parafernália eletrônica que ainda não dominava os lares, eu passava
várias horas do dia “batendo peneira”, tentando identificar os espécimes
de peixes. Muitos deles eram capturados por mim e passavam a viver nos
meus aquários. Foi assim que tudo começou. O aquarismo, que me levava a
fazer até algumas bobagens, como retirar os bichos do seu hábitat, foi
importante para trazer o conhecimento de como a natureza funcionava e de
quão bela ela é na sua “simplicidade complexa”. O palco das minhas
primeiras aventuras ictiológicas foi o Córrego Canela, que hoje não
passa de um canal de drenagem encravado na região central de uma São
José do Rio Preto que há muito deixou de ser bucólica.
Quando
me dei conta de que minha vida jamais se afastaria das questões
ambientais, já estava na universidade estudando biologia. Desde então
pude experimentar várias maneiras de viver o ambientalismo. O
engajamento nos movimentos sociais, políticos e religiosos sempre foi
direcionado, senão totalmente, em boa medida para a discussão e defesa
do meio ambiente. Tentei de alguma forma contribuir ensinando,
pesquisando, debatendo, educando, votando e acima de tudo procurando dar
exemplo. O serviço público me permitiu durante um bom tempo ganhar a
vida defendendo o meio ambiente, mas dentro da máquina pública é preciso
muitas vezes brigar para conseguir fazer o que deve ser feito e nem
sempre se sai vitorioso nessa briga. Escrever foi uma forma que
encontrei para ter mais armas na batalha ambientalista.
Apesar
de não parecer, o ambientalista é essencialmente um otimista. Só
continua lutando porque acredita que ainda é possível salvar um sítio
natural, um ecossistema, uma espécie, um bioma, o planeta. Porque crê na
mudança da sociedade e do comportamento das pessoas. Muitos enxergam os
ambientalistas como os cavaleiros do apocalipse que estão sempre
prontos a anunciar a tragédia ambiental, o caos, o fim do mundo. Se não
fôssemos otimistas, seria mais cômodo aproveitar o que resta do mundo,
obtendo o máximo conforto enquanto isso é possível. Ao contrário,
preferimos deixar a zona de conforto e lutar pelo futuro.
Hoje
eu iria escrever sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, uma lei
publicada no final do Governo Lula e que, a exemplo da Política
Nacional sobre Mudança do Clima, abordada no artigo anterior,
é uma das coisas positivas que recentemente aconteceram no Brasil e que
fazem parte do rol de assuntos motivadores a alimentar os ideais dos
que lutam por um ambiente mais equilibrado. Infelizmente, por ironia do
destino, enquanto eu rascunhava um esboço de texto sobre resíduos,
recebia a notícia de um novo carregamento de lixo importado que chegara
ao Porto de Itajaí. Eu já havia escrito
sobre esse tipo de problema alertando que essas importações poderiam
ser mais comuns do que se pensa, pois uma amostra pequena dos
containeres é conferida pelos fiscais. A nova importação de lixo, dessa
vez proveniente do Canadá, teve um espaço na mídia muito inferior aos
casos anteriores, o que é típico de algo que se torna comum. A triste
notícia e mais a expectativa da votação do desmonte do código florestal
na próxima terça-feira na Câmara dos Deputados, levaram-me a publicar
estas reflexões ao invés da discussão sobre os resíduos.
Não
importa quantas batalhas sejam perdidas, haverá sempre alguma vitória,
ainda que pequena, que mostra que a luta vale a pena. Uma notícia de
redução de desmatamento, a publicação de uma lei que facilite a equação
de um problema ambiental, a criação de uma unidade de conservação, um
movimento organizado de defesa de um bem ambiental, uma vitória do
Ministério Público na defesa dos direitos difusos, uma geração mais
consciente, todos são motivos para renovar as esperanças. A necessidade
de deixar de destruir, de poluir menos, de respeitar a natureza é cada
vez mais evidente. Até quem não quer ver será obrigado a abrir os olhos.
Fenômenos como os tufões que varreram cidades americanas do mapa na
semana passada são cada vez mais frequentes. Está difícil dissociar essa
constatação de sua mais provável causa, que são as mudanças do clima.
As ações do homem terão que convergir para a equação dos problemas
ambientais, cujo caminho é uma relação mais harmoniosa com a natureza.
Portanto, não há como os ideais ambientalistas não prevalecerem. Nós
ambientalistas, sabemos disso, mas lutamos ainda assim para que a
solução chegue o quanto antes. Assim, quem sabe, as sequelas serão
menores.
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