A cidade de Espinharas é uma das poucas no país a contar com uma importante jazida de urânio.
Angélica Nunes
Famílias inteiras
sendo retiradas às pressas para regiões onde a radioatividade não as
alcance, deixando para trás o lugar em que fixaram raízes, estreitaram
laços sociais e construíram o patrimônio de toda uma vida. O cenário,
que mais parece o de um Armagedom, pode, em alguns anos, se tornar
realidade para os moradores do município de São José de Espinharas, no
Sertão da Paraíba.
A cidade, de pouco mais de 4.760 habitantes, localizada a noroeste da
Paraíba, fazendo divisa com o Estado do Rio Grande do Norte, é uma das
poucas no país a contar com uma importante jazida de urânio.
Caso fosse necessário explorar o minério, seria preciso remover toda a
população do município, devido aos altos índices de radioatividade
durante a extração do minério, extremamente prejudicial à saúde.
Apesar de descartada a exploração imediata do urânio de São José de
Espinharas, a preocupação dos cientistas com a exposição dos moradores
do município ao alto teor do minério encontrado em diversos pontos da
cidade existe. Um estudo está sendo realizado há cerca de um ano pelo
Departamento de Energia Nuclear (DEN) da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) para avaliar a relação entre os casos de câncer na
população e a presença de urânio.
Isso porque se especula que o contato prolongado com a radioatividade
propagada por esse minério poderia ocasionar um envenenamento de baixa
intensidade (inalação, ou absorção pela pele), produzindo também efeitos
colaterais, tais como: náusea, dor de cabeça, vômito, diarreia e
queimaduras.
Segundo o engenheiro nuclear José Araújo, do DEN, responsável pela
pesquisa, o efeito direto do urânio no organismo é cumulativo (o que
significa que o mineral, por não ser reconhecido pelo ser vivo, não é
eliminado, sendo paulatinamente depositado, sobretudo nos ossos), e a
radiação assim exposta pode ocasionar o desenvolvimento de câncer.
A equipe de pesquisadores do DEN está fazendo visitas periódicas na
cidade para colher amostras da fauna e da flora local e de além de
‘testemunhos’, que são amostras de urânio retiradas do interior das
pedras, através de tubos de metal altamente resistentes.
“Queremos fazer um cruzamento com os dados obtidos em pesquisas
anteriores para levantar as causas do elevado número de pessoas em São
José de Espinharas com câncer de pele, problemas respiratórios e uma
série de outros problemas que acreditamos ter relação com a presença de
urânio e outros minerais”, comentou José Araújo.
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