terça-feira, 24 de julho de 2012

Veículos ameaçam a Barreira do Cabo Branco

Tráfego de caminhões e ônibus contribui para a erosão da falésia do Cabo Branco, que também sofre com efeito da chuva e marés.



Francisco França
Para o pesquisador Max Furrier, a circulação de veículos pesados deveria ser desviada da área
A discussão acerca do processo erosivo na barreira do Cabo Branco vem de muitos anos e, apesar dos estudos complexos feitos por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pela Prefeitura de João Pessoa, o local vem sofrendo aos poucos com o desmoronamento, ocasionado pelo avanço do mar e a erosão. Um dos fatores que agrava a situação é o tráfego de veículos pesados, como ônibus e caminhões, o que gera trepidações no solo.

A afirmação foi feita pelo professor do departamento de Geociências da UFPB, Max Furrier, que estuda o processo de erosão no litoral paraibano. Segundo ele, seria interessante impedir a passagem de veículos naquela área. “Porém, temos que ser realistas. Toda área ao entorno se tornou um grande centro de atração turística que deve ser aproveitada por todos”, frisa. Fatores climáticos (chuvas) e marítimos (marés altas, incidência direta de ondas, frequência e porte de ondas) também contribuem para a erosão na barreira.

Ainda sobre o tráfego de veículos na área, o professor faz outras observações. “Ao meu ver, seria mais interessante construir outras vias de acesso para, ao menos, afastar das proximidades da barreira do Cabo Branco os ônibus e demais veículos pesados, principalmente da via de acesso que sai do final da praia do Cabo Branco e chega à Estação Ciência”, completa. A atual situação é considerada 'muito crítica'.

Mesmo com os estudos complexos feitos por pesquisadores qualificados, não há como dizer o que acontecerá daqui para frente, ou projeções do tipo 'barreira do Cabo Branco desaparecerá em 20 ou 30 anos'. Furrier explica que “isso vai depender de fatores climáticos, geológicos, geodésicos e, principalmente, da interferência humana”. O professor declara ainda que é “complicado fazer algum tipo de projeção quando se tem pouco ou quase nenhum estudo sistemático prévio sobre uma determinada área”.

Outro fator que acentua os deslizamentos é a ocorrência de chuvas, segundo o professor. “Isso ocorre devido à infiltração da água, o que torna a rocha mais pesada e faz com que os grãos que a formam fiquem menos coesos”, explica. “Há, também, nesse período, a incidência de ondas mais fortes e com mais frequência”, completa.

Mas é importante lembrar que, mesmo antes da intervenção humana, o processo erosivo na barreira do Cabo Branco já vinha ocorrendo no entorno da área. “As edificações construídas no topo do tabuleiro, na retaguarda da barreira, modificaram, substancialmente, a percolação da água das chuvas tanto em superfície como no subsolo”, afirma. Não há estudos sistemáticos e científicos que comprovem que essas construções dinamizaram a erosão na barreira do Cabo Branco.

De acordo com Furrier, no Brasil, os marégrafos mais antigos (instrumentos utilizados para medir as marés) apontam para uma elevação do nível do mar de 30 a 50 centímetros por século. “É uma média brasileira”, declara. “Em outros países, por motivos geológicos e geodésicos, o nível do mar está abaixando, como na Noruega e Suécia. Portanto, os processos erosivos que verificamos no litoral da Paraíba e em outras partes do Brasil se devem ao déficit de sedimentos que formam as praias”, acrescenta. Construções, barragens, asfaltamento de ruas e avenidas impedem que os sedimentos cheguem às praias, o que ocasiona a erosão costeira.


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