Tráfego de caminhões e ônibus contribui para a erosão da falésia do Cabo Branco, que também sofre com efeito da chuva e marés.
Valéria Sinésio
Valéria Sinésio
A discussão acerca do
processo erosivo na barreira do Cabo Branco vem de muitos anos e, apesar
dos estudos complexos feitos por pesquisadores da Universidade Federal
da Paraíba (UFPB) e pela Prefeitura de João Pessoa, o local vem sofrendo
aos poucos com o desmoronamento, ocasionado pelo avanço do mar e a
erosão. Um dos fatores que agrava a situação é o tráfego de veículos
pesados, como ônibus e caminhões, o que gera trepidações no solo.
A afirmação foi feita pelo professor do departamento de Geociências
da UFPB, Max Furrier, que estuda o processo de erosão no litoral
paraibano. Segundo ele, seria interessante impedir a passagem de
veículos naquela área. “Porém, temos que ser realistas. Toda área ao
entorno se tornou um grande centro de atração turística que deve ser
aproveitada por todos”, frisa. Fatores climáticos (chuvas) e marítimos
(marés altas, incidência direta de ondas, frequência e porte de ondas)
também contribuem para a erosão na barreira.
Ainda sobre o tráfego de veículos na área, o professor faz outras
observações. “Ao meu ver, seria mais interessante construir outras vias
de acesso para, ao menos, afastar das proximidades da barreira do Cabo
Branco os ônibus e demais veículos pesados, principalmente da via de
acesso que sai do final da praia do Cabo Branco e chega à Estação
Ciência”, completa. A atual situação é considerada 'muito crítica'.
Mesmo com os estudos complexos feitos por pesquisadores qualificados,
não há como dizer o que acontecerá daqui para frente, ou projeções do
tipo 'barreira do Cabo Branco desaparecerá em 20 ou 30 anos'. Furrier
explica que “isso vai depender de fatores climáticos, geológicos,
geodésicos e, principalmente, da interferência humana”. O professor
declara ainda que é “complicado fazer algum tipo de projeção quando se
tem pouco ou quase nenhum estudo sistemático prévio sobre uma
determinada área”.
Outro fator que acentua os deslizamentos é a ocorrência de chuvas,
segundo o professor. “Isso ocorre devido à infiltração da água, o que
torna a rocha mais pesada e faz com que os grãos que a formam fiquem
menos coesos”, explica. “Há, também, nesse período, a incidência de
ondas mais fortes e com mais frequência”, completa.
Mas é importante lembrar que, mesmo antes da intervenção humana, o
processo erosivo na barreira do Cabo Branco já vinha ocorrendo no
entorno da área. “As edificações construídas no topo do tabuleiro, na
retaguarda da barreira, modificaram, substancialmente, a percolação da
água das chuvas tanto em superfície como no subsolo”, afirma. Não há
estudos sistemáticos e científicos que comprovem que essas construções
dinamizaram a erosão na barreira do Cabo Branco.
De acordo com Furrier, no Brasil, os marégrafos mais antigos
(instrumentos utilizados para medir as marés) apontam para uma elevação
do nível do mar de 30 a 50 centímetros por século. “É uma média
brasileira”, declara. “Em outros países, por motivos geológicos e
geodésicos, o nível do mar está abaixando, como na Noruega e Suécia.
Portanto, os processos erosivos que verificamos no litoral da Paraíba e
em outras partes do Brasil se devem ao déficit de sedimentos que formam
as praias”, acrescenta. Construções, barragens, asfaltamento de ruas e
avenidas impedem que os sedimentos cheguem às praias, o que ocasiona a
erosão costeira.
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